Correspondentes
Li dia desses o livro "Correspondentes – Bastidores, histórias e aventuras de jornalistas brasileiros pelo mundo". Na verdade, lendo a contracapa da apurada edição de 530 páginas, estive a ponto de deixá-la ali mesmo na gôndola, apesar do enorme interesse que me despertava o conteúdo. A razão é simples. Ao lado de nomes como os de Sergio Motta Melo, Roberto Feith, Lucas Mendes, Pedro Bial, Jorge Pontual, Silio Boccanera e Sandra Passarinho, o mínimo que se poderia esperar é que uma seção fosse consagrada a um dos maiores correspondentes da emissora, William Waack. Ora, sendo o livro organizado pela Editora Globo, não foi surpresa que o jornalista tenha sido sumariamente cortado, reflexo de um dos episódios mais canalhas de que se tem notícia na profissão. Contudo, como o nome de William constava pelo menos do índice onomástico, fiz vista grossa à perfídia e adquiri meu exemplar.
Isso dito, admito que não me arrependi. De palpitantes relatos na América Central a coberturas sobre a guerra do Líbano, o fato é que repassei mentalmente algumas páginas que, na verdade, tinham marcado minha própria vida, década após década. E antes mesmo do advento de empresas como a CNN, o público brasileiro pode dizer que teve sim uma percepção bastante privilegiada do cenário mundial graças ao empenho desses jornalistas, e às pessoas que lhes davam suporte no Brasil, nos escritórios locais e, como não, no teatro onde tudo acontecia, na pessoa do que se chama hoje de fixers, aqueles elementos locais que funcionam como ponte linguística e cultural para as equipes itinerantes. Como muitos dos protagonistas do livro dizem, a censura brasileira nos anos 1970-1980 fazia com que eles conseguissem mais espaço noticioso para as notícias do mundo. Por vias tortas, portanto, fomos privilegiados sem saber.
Entre relatos anedóticos e dramáticos, há de se ressaltar o caráter nobre do ofício, para cujo desempenho muita gente tinha de lidar com o medo. Primeiro sem se deixar paralisar por ele porque se assim fizesse, estava na profissão errada. Depois por saber lidar com ele porque sem o medo, a morte pode ser quase certa. Nesse contexto, merece destaque a versatilidade desses profissionais. Além de conseguir trabalhar em condições precárias, a começar pelas suas bases, – até que o jornalismo internacional ganhasse o status que lutou para ter –, nada teria sido feito sem presença de espírito, simpatia e da plasticidade em que implica ser brasileiro. São inúmeras as histórias em que o repórter sai para um dia normal de trabalho e, quando menos espera, já precisa ir direto para o aeroporto para chegar a um lugar remoto, de onde só voltará semanas mais tarde. Livro imprescindível para quem gosta do mundo e de jornalismo.
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