China: 2020 em seis meses
Quase 50 mil mortes nos Estados Unidos causadas pela Covid-19, e aceleração dos casos e vítimas fatais na Índia, Japão, Indonésia, Cingapura, e em países africanos e latino-americanos. Enquanto isso, a geopolítica mundial se acirra – com inédita tentativa de responsabilização de um país por uma pandemia –, e a economia dos países ricos colapsa, com o setor do turismo devastado, feiras importantes adiadas sine die, compras suspensas, entregas atrasadas, preços do petróleo em queda livre e a expectativa do menor PIB da China em 40 anos. Esse conjunto de eventos justifica a impressão generalizada que 2020 está perdido. Talvez esteja realmente perdido para a maior parte do mundo, mas é bem possível que a China consiga recuperar-se no segundo semestre.
Ainda que pareça inverossímil, há motivos para se acreditar nisso, porque a partir do 12º Plano Quinquenal (2011-2015), a vulnerabilidade da China às crises globais começou a diminuir, em decorrência da prioridade para o mercado interno, e não mais o comércio exterior, como ocorreu de 1980 a 2010. A balança comercial de US$ 4,6 trilhões, em 2019, respondeu por um terço do total do PIB do país no ano passado (US$ 14,1 trilhões, pela paridade cambial). Se comparada com o PIB de 2019 pela paridade do poder de compra (US$ 27,3 trilhões), a participação externa cai mais ainda.
Petróleo barato favorece enormemente a recuperação da economia chinesa, contribuindo para reduzir seus custos totais, assim como a consolidação do "Belt and Road Initiative" (ou OBOR: One Belt One Road) em toda a Ásia Central, via investimentos bilionários em infraestrutura e a contratação de empresas chinesas para realizar as obras em vários países da região. A cereja do bolo é sem dúvida o 5G chinês, que está "causando" desde o ano passado na relação entre os Estados Unidos e a China, e que em 2020 promete impactar ainda mais, com a demanda por uma nova Internet, que seja capaz de atender a sua velocidade e capacidade de dados.
Ainda que não atue como um império na Ásia (Zhongguó, o nome chinês do país, significa o "império do centro"), a China é efetivamente o centro comercial do continente: são asiáticos 12 dos seus 20 maiores importadores, tendo comprado o total de US$ 1,051 trilhão em 2019. Esse montante é uma vez e meia maior do que as importações norte-americanas (US$ 418,6 bilhões) e quatro vezes maior do que as compras da Alemanha, Holanda e Reino Unido somadas.
Resumindo: a estratégia chinesa da autossuficiência e, ao mesmo tempo, de fortalecer a ligação comercial e a conectividade com os países vizinhos, fortalecendo a economia regional, faz da Ásia hoje, na prática, o que se pretendia alcançar com o Mercado Comum Europeu, em 1993, e proporciona ao país condições únicas no mundo para crescer por um ano no segundo semestre.
Prova dessa disposição de recuperar o tempo perdido é a preparação desde o final de março, de viagem ao Brasil em agosto, com dez dias de duração, de comitiva de importante província chinesa, interessada em investir e em realizar negócios nas áreas de energia, infraestrutura e alimentos.
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Comentários: 1
Vladimir, estou lendo o relatório de abril que o FMI sobre a economia global, e lá a previsão de crescimento para a China é de 1,2 em 2019 e 9,2 em 2021. Ou seja, vai para onde você aponta.