Uma capital protegida por 1500 vigilantes câmeras
Como é possível que a cidade mais perigosa e violenta do mundo possa não só ter superado os anos de crise social, econômica e política gerada pela guerra entre cartéis narcotraficantes, como tenha se tornado um verdadeiro case de desenvolvimento urbano e inovação na América Latina? Além de possível, Medellín (foto) passou a “exportar” seu modelo para prefeitos de todo o mundo. A segunda maior cidade e coração econômico da Colômbia é cenário nesta semana do Medellín Lab 2018 – evento realizado pela agência de cooperação ACI Medellín em parceria com o Banco Mundial. Entre 28 de outubro e 2 de novembro, o laboratório de experiências de Medellín apresenta desafios e perspectivas da realidade urbana, utilizando um método que leva os visitantes e convidados estrangeiros a vivenciar pessoalmente as transformações.
Para esta segunda edição estão sendo recebidas delegações asiáticas e africanas de Chongquing (China), Kigali (Ruanda), Kinshasa (Congo), Dakar (Senegal), Nairobi (Quênia), Johannesburgo e Capetown (África do Sul), Dar es Salaam (Tanzania), Ho Chi Minh (Vietnam) e Yakarta (Indonesia). O Medellín Lab 2018 busca contribuir para que as cidades participantes criem ou adaptem seus planos locais de desenvolvimento a partir de pontos como sistema de transporte que ofereça inclusão socioeconômica e prevenção da violência, medidas de planificação integrada para desenvolver bairros em risco e modelos de negócios e estruturas institucionais associadas que permitam um financiamento sustentável da melhoria na infraestrutura urbana.
Na terça-feira (30), o secretário de segurança de Medellín, Andrés Felipe Tobón, apresentou a evolução do cenário da cidade nos últimos anos. A capital colombiana surpreende positivamente: passou de 381 homicídios anuais a cada mil habitantes, em 1991, para o índice atual de 24. Chama atenção a eficiência do Sistema Integrado de Emergências e Segurança Metropolitano, instalado em 2011, que possui mais de 1.500 câmeras de reconhecimento em todo o munícipio. “Até hoje, nenhuma cidade no mundo foi vítima de uma crise tão violenta concentrada num período de tempo e espaço como a nossa guerra entre cartéis, grupos paramilitares, guerrilhas e a autoridade governamental. Éramos uma espécie de zona franca criminal”, compara Tobón, que está há um ano no cargo. Especialista em ciência política, o jovem de 27 anos tem mestrado em Estudos Humanísticos pela Universidad EAFIT.
O secretário enfatiza ainda que a mudança de administrações municipais não pode ser um empecilho na continuidade das políticas públicas de sucesso. “Desde então, vem sendo feito um trabalho contínuo não só no atendimento às zonas mais desfavorecidas da cidade, mas de parceria com todos os grupos da sociedade civil organizada. É preciso dar visibilidade e incentivar a cidadania. Dizemos que Medellín saiu do medo para a esperança, da esperança para a vida e da vida para a confiança”, orgulha-se.
Outra iniciativa exitosa apresentada no primeiro dia de Medellín Lab foi a relação entre poder público, iniciativa privada e a academia, representada pela Universidad EAFIT, especializada em administração e finanças. “Nos últimos anos, deixamos de atuar apenas como transmissora de conhecimento para ser um ator determinante no desenvolvimento da cidade, em verdadeiramente servir o coletivo. Dessa forma, a EAFIT está presente em todas as áreas e projetos em que nossa ajuda é necessária”, define o reitor Juan Luis Mejía Arango, ex-ministro da Cultura da Colômbia. Ele destaca ainda a importância de administradores profissionais na gestão do empresariado, seja em grupos familiares ou em S/As. “A academia consegue, aos poucos, passar essa mentalidade ao setor privado, além do público. É preciso sempre fortalecer as instituições, todas elas. Se as instituições desmoronam, a sociedade sucumbe junto”, afirma.
*O jornalista viajou a convite da ACI Medellín para a cobertura do evento.
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