Marketing em movimento

Um motorista de aplicativo e suas lições empresariais
À medida que o interesse dos passageiros foi crescendo, ele adaptou o mix de produtos e aumentou seu espaço de exposição, removendo o banco dianteiro do veículo

As aulas das escolas de negócios são repletas de cases de grandes companhias, especialmente das mais conhecidas do público. Porém, às vezes o dia a dia, com seus microempreendedores ou modestos prestadores de serviços, fornece exemplos tão bons ou melhores do que aqueles oferecidos pelas corporações nacionais ou multinacionais.

Quando ministrava aula sobre marketing de experiência, por exemplo, eu gostava de ilustrar o conceito com exemplos porto-alegrenses com os quais os alunos pudessem ter tido algum contato: um taxista que se vestia à la John Lennon e adesivava seu automóvel com referências aos Beatles, um consultório odontológico infantil em que seus funcionários atendiam paramentados como personagens de desenho animado e outro, adulto, em que trajavam camisas havaianas, a fim de diminuir o medo que dentistas costumam provocar.

Ao falar em pricing, eu evocava a clássica barraquinha de venda de limonada que as crianças costumam armar nas férias para falar de percepção de valor, ancoragem e outros assuntos relacionados à psicologia dos preços. E em avaliação de serviços, pedia que os estudantes mencionassem os critérios que levavam em consideração ao dar estrelinhas para os motoristas de aplicativo.

Pois foi justamente um condutor de Uber que proporcionou, recentemente, uma lição de conceitos empresariais. Ele aproveitou para expor em seu automóvel um estoque de cosméticos que a esposa, ex-proprietária de uma loja, não conseguira vender. À medida que o interesse dos passageiros foi crescendo, ele adaptou o mix de produtos e aumentou seu espaço de exposição, removendo o banco dianteiro do veículo. Um exemplo típico de aproveitamento do ponto comercial, visual merchandising e vendas cruzadas oferecido por um microempreendedor individual.

Mas o case é ainda mais interessante quando se observa que foi o "boca a boca digital", por meio de uma publicação de uma passageira em redes sociais, que deu notoriedade ao negócio. O motora deu nome ao empreendimento ("Loja em Movimento"), pois branding é indispensável, e aproveitou suas habilidades de construtor de expositores para carros, desenvolvidas para garantir que as mercadorias não caiam com o veículo em movimento, e passou a fornecê-los a outros choferes de aplicativo, em um legítimo spin-off.

Mas como na vida dos empresários nem tudo são flores, já há quem coloque em dúvida a legalidade da iniciativa, alegando razões de segurança. Só falta agora algum governo inventar de cobrar um imposto específico sobre produtos vendidos em automóveis – para o exemplo deixar de ser utilizado apenas nas aulas de marketing e passar a frequentar as de direito de trânsito e tributário também...

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Domingo, 28 Abril 2024

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