Decisões que vão para o espaço
As recentes viagens de Richard Branson e Jeff Bezos marcaram a ida de civis ao espaço, ainda que por algumas poucas horas. Primazia que teria cabido à professora escolar Christa McAuliffe, em janeiro de 1986, não houvesse o ônibus espacial Challenger, do qual era tripulante, explodido no ar um minuto depois da decolagem (saiba ou relembre aqui).
Tragédia perfeitamente evitável caso os responsáveis pelo lançamento da espaçonave tivessem ouvido os engenheiros que alertavam sobre um possível dano aos anéis de vedação do tanque de combustível, que não haviam sido testados sob as temperaturas excepcionalmente baixas daqueles dias na Flórida.
O porquê de não terem sido ouvidos, ninguém sabe ao certo. O cientista político Christian Morel arriscou uma explicação a respeito em "Erros radicais e decisões absurdas" (ed. Campus, 2003). Segundo ele, os gerentes da NASA responsáveis pela decisão de lançar a Challenger haviam sido vítimas de uma "ratoeira cognitiva". Em vez de se acautelarem com a inexistência de conhecimento sobre o comportamento das peças no frio, fizeram da "falta de provas de que havia falhas como uma prova de confiabilidade" (p. 65)
Erros assim são comuns em decisões cotidianas nas empresas. Tanto que estudiosos da administração têm se valido do conhecimento de especialistas em psicologia comportamental para tentar elencá-los e montar manuais de decisão à prova de vieses como o que acometeu a equipe da NASA. Já existe um consenso de que somos dotados de uma racionalidade limitada, e, por isso, bengalas decisórias são bem-vindas para evitar equívocos traiçoeiros.
Equívocos que, por sinal, podem ser coletivos. Excesso de otimismo, supressão de convicções pessoais em nome de consensos duvidosos e adesão à opinião de autoridades são alguns deles. Decidir em grupo pode ser tão fatal quanto fazê-lo sozinho, quando não pior.
Ah, sim. Allan McDonald, um dos engenheiros que alertou sobre os riscos de lançamento da Challenger, morreu em março deste ano, aos 83 anos. Levou consigo a culpa por não ter sido mais enfático na defesa de seu ponto de vista tragicamente correto.
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