Peça para sentar, pague para sair
Duas semanas atrás, comentei a nova política da Starbucks nos Estados Unidos de abordar frequentadores que não consomem, sugerindo que comprem algo ou se retirem das suas lojas. Mas a cadeia norte-americana está longe de ser exceção nessas medidas.
Às vésperas do verão europeu e há anos funcionando informalmente como estações de trabalho remoto, cafés espanhóis estão adotando procedimento semelhante para lidar com clientes que ocupam lugares e gastam pouco. Só que, em vez de instarem alguém a consumir, fazem diferente: estabelecem um preço pelo tempo de permanência na mesa.
Num estabelecimento de Barcelona, por exemplo, um café custa € 1,30, se sorvido em até 30 minutos. Passando disso, sobe para € 2,50 e, se superar 60 minutos, chega a € 4,0. Outros limitam ou vetam o uso de laptop, numa maneira indireta de evitar longas estadas.
Proprietários se justificam: no auge da alta temporada, há filas para ingressar nos pontos-de-venda, e uma mesa sem consumo vira custo de oportunidade para o comerciante. E como bem observou um internauta, por mais antipática que soe a decisão, nada mais é do que uma mudança na forma de precificar: o custo do produto é somado ao tempo para sua fruição, reconhecendo que, à semelhança dos estacionamentos, cada vaga (ou, no caso, assento) é dinheiro.
Assim como no caso da Starbucks, cuja decisão foi recebida com preocupação por ONGs de proteção a moradores de rua, que tinham nas lojas da rede um abrigo amigável quando necessário, a repercussão da postura espanhola também acarreta um impacto maior do que aparente à primeira vista. O teletrabalho desonerou muitas empresas do aluguel de escritórios, delegando a responsabilidade desses custos aos funcionários. Estes, no entanto, nem sempre contam com ambientes apropriados em casa, e têm de recorrer a lugares públicos, como bares e cafés. E, assim, o custo é transferido da companhia para o profissional, e deste para o estabelecimento, num efeito colateral inesperado.
Bem diferente daquilo que ocorre na China, onde proliferam ambientes de trabalho para quem não trabalha. São grandes espaços nos quais há toda a infraestrutura típica dos escritórios, como cubículos, acesso à internet, cafezinho, água e banheiro, e que atende, entre outros, desempregados dispostos a manter as aparências diante de parentes e amigos. Gente que não quer dar explicações porque saiu ou foi saído de um trampo e não se importa de transformar seu cotidiano numa performance. Um coworking para no workers, digamos assim.
Dadas as agruras da economia europeia na última década e a emergência da geração nem-nem, quem sabe não esteja aí uma oportunidade para as cafeterias espanholas.
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