A China também quer dar as cartas no cenário mundial
A China, mesmo desacelerando, está vendo a sua economia se expandir em um ritmo muito mais rápido do que os sonhos de muitos países, sendo eles emergentes ou desenvolvidos. Ao mesmo tempo, o gigante asiático busca se diferenciar e mostrar que não é apenas um grande mercado consumidor e sim uma grande influência – mesmo que não queira alterar a ordem mundial. É isso que destaca em reportagem o jornal britânico Financial Times. A publicação aponta que, não há muito tempo, os políticos ocidentais se perguntam se uma China em ascensão iria se colocar como uma parte interessada no sistema global pós-guerra.
E agora, em meio à polêmica sobre a criação do Asian Infrastructure Investment Bank, a questão é saber se a China buscará criar uma nova arquitetura internacional e se será tão influente como ocorreu a partir da ordem liderada pelos Estados Unidos, criada em 1945. E todos na China, apontam o jornal, estão falando sobre a iniciativa do presidente Xi Jinping chamada "One Belt, One Road", ou "Um cinto, um caminho" em tradução literal. Porém, ninguém parece saber exatamente o que isso significa.
Os especialistas e realizadores de políticas que estiveram em Guangzhou para a conferência anual Stockholm China Forum sediada pelo German Marshall Fund e Institutos de Estudos Internacionais de Xangai destacaram diversas descrições e interpretações. Porém, todo mundo parece entender que o impulso expansionista para o oeste é o grande jogo do presidente chinês – uma grande estratégia euro-asiática que poderá tirar a dúvida do status da China como uma potência global. Todos os vestígios remanescentes da desconfiança que uma vez marcaram a ascensão da China desapareceram, afirma a reportagem. As grandes gestoras não estão contentes com a adesão de clubes de outros integrantes. Elas querem iniciar o seu próprio clube.
O projeto de Xi Jinping não é refazer as antigas estradas de seda, mas expandindo e garantindo as rotas marítimas para o Oriente Médio e Europa. Pequim sempre viu o Estreito de Malaca como um ponto de estrangulamento perigoso e, por isso, está chegando ao Oceano Índico. O plano inclui uma base naval em águas profundas no Paquistão e outro caminho para o mar através de Myanmar e Bangladesh. Assim, Pequim está abrindo as rotas marítimas do Norte para a Europa. O mais recente documento de estratégia militar da China foi além da defesa das águas offshore para "a defesa dos mares abertos".
A ambição se estende além das meras estradas e ferrovias – embora funcionários estejam visivelmente orgulhosos de uma nova rota de transporte ferroviário de mercadorias levando fabricantes chineses de Zhengzhou da Rússia para Hamburgo. Um pacote de ajuda de US$ 42 bilhões para o Paquistão anunciado por Xi é uma peça no mosaico de acordos e promoções que levam a China para o oeste. As ex-repúblicas soviéticas da Ásia Central contam com centrais elétricas, fábricas e oleodutos em troca de contratos de fornecimento de gás. A ferrovia e rodovia ligarão a China e o Mar Arábico. As novas conexões para o Chifre da África e para a Europa acelerarão o processo de integração econômica da Eurásia.
A China insiste que o lema "One Road One Belt" dá espaço para todos, seja a partir do oeste ou leste da Ásia. E é importante se atentar sobre essas iniciativas:, pois a China quer definir os parâmetros. Como destacou a empresa de consultoria com sede em Londres Trusted Sources, Pequim está aproveitando todo o seu poder econômico, financeiro e diplomático para conduzir um processo de integração euro-asiático a partir de sua própria fronteira para o Oriente Médio, África e Europa. Isso adiciona uma grande esfera de influência. "Não vai prosseguir sem problemas, é claro. Moscou já está desconfortável no papel de parceiro secundário na relação sino-russa. E, com boa razão, está nervoso sobre a mudança na relação da China com as ex-repúblicas soviéticas", destaca o Financial Times.
Já uma antiga rival chinesa, a Índia, está expandindo sua própria presença naval no Oceano Índico. E os grandes valores que Pequim colocará na conta de alguns países não devem suavizar as rivalidades e competição por recursos que atormentam a Ásia Central. "A China não pretende derrubar a ordem global existente. Ainda não, ou não de qualquer maneira. Mas a mensagem geoestratégica dificilmente poderia ser mais clara. Pequim pretende ser uma estabelecedora de regras tanto como uma tomadora de regras. E ao mesmo tempo que concorre com os Estados Unidos no Leste da Ásia, que parece destinada a se tornar Eurásia. Com isso, o Ocidente tem de decidir se irá se tornar uma parte interessada no projeto de outro alguém", conclui o jornal.
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