Riscos fiscais levam BC a adotar política mais contracionista

A inflação continua se revelando persistente, nota Copom
De acordo com o BC, os últimos dados sobre a evolução da atividade econômica do país continuam evoluindo positivamente

Em meio à perspectiva de uma recuperação econômica robusta no segundo semestre, os riscos fiscais e a piora recente em componentes inerciais dos índices de preços levaram o Banco Central a adotar uma política monetária mais contracionista. A avaliação consta na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), divulgada nesta terça-feira (10).

No encontro da semana passada, o Copom elevou a taxa básica de juros da economia, a Selic, de 4,25% para 5,25% ao ano e já sinalizou que deve fazer um ajuste da mesma magnitude na próxima reunião, em setembro, mantendo o ciclo de elevação da taxa de juros para patamar acima do neutro, "para que se obtenha projeções em torno das metas de inflação no horizonte relevante". O juro neutro é aquele adequado para estimular a economia sem gerar instabilidade na inflação ao longo do tempo.

"O comitê ponderou que os riscos fiscais continuam implicando um viés de alta nas projeções. Essa assimetria no balanço de riscos afeta o grau apropriado de estímulo monetário, justificando assim uma trajetória para a política monetária mais contracionista [de conter o avanço da inflação] do que a utilizada no cenário básico", diz a ata."Por um lado, uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento recente nos preços das commodities internacionais em moeda local produziria trajetória de inflação abaixo do cenário básico. Por outro lado, novos prolongamentos das políticas fiscais de resposta à pandemia que pressionem a demanda agregada e piorem a trajetória fiscal podem elevar os prêmios de risco do país", avaliou o Copom. "Apesar da melhora recente nos indicadores de sustentabilidade da dívida pública, o risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária", completa a ata.

De acordo com o documento, a inflação ao consumidor continua se revelando persistente e os últimos indicadores divulgados mostram composição mais desfavorável de preços, como a "surpresa com o componente subjacente da inflação de serviços [em meio à reabertura do setor] e a continuidade da pressão sobre bens industriais, causando elevação dos núcleos". "Além disso, há novas pressões em componentes voláteis, como a possível elevação do adicional da bandeira tarifária e os novos aumentos nos preços de alimentos, ambos decorrentes de condições climáticas adversas. Em conjunto, esses fatores acarretam revisão significativa das projeções de curto prazo", revelam os membros do Comitê.

Nesse sentido, o Copom considera que, neste momento, a estratégia de ser "mais tempestivo" no ajuste da política monetária é a mais apropriada para assegurar a convergência da inflação para as metas de 2022 e 2023. "Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego", destaca o documento.

De acordo com a ata, os últimos dados sobre a evolução da atividade econômica do país continuam evoluindo positivamente. Para o Copom, o segundo semestre do ano deve mostrar uma retomada robusta da atividade, na medida em que os efeitos da vacinação sejam sentidos de forma mais abrangente. Por outro lado, embora a ociosidade da atividade como um todo evolua rapidamente para retornar ao nível do fim de 2019, "o comitê considera que a pandemia ainda segue produzindo efeitos heterogêneos sobre os setores econômicos e, em particular, sobre o mercado de trabalho, com consequências para a dinâmica recente e prospectiva da inflação".

Com Agência Brasil

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