“A pandemia forçou o país a refletir sobre suas fraquezas”

Para a economista Zeina Latif, a crise na saúde trouxe lições e pode mover agendas de reformas
“É preciso ter uma previsibilidade no ambiente de tomada de decisão para que os players tenham tranquilidade para investir”, avalia Zeina

Na segunda edição do BRDE Cenários, ocorrido nesta quarta-feira (4), a consultora de economia Zeina Latif expôs algumas análises e aprendizados sobre a crise da saúde que eclodiu com o coronavírus. Essas lições, segundo ela, podem gerar um movimento nas agendas de reformas. "A pandemia chacoalhou e praticamente forçou o país a refletir sobre suas fraquezas", afirmou a economista. Hoje em dia, já há diversos diagnósticos baseados nos acontecimentos, além de uma sociedade mais inquieta. O primeiro ponto de alerta em relação à atuação do Brasil na pandemia foi o alto índice de mortes, apesar de ter sido um dos países que mais gastou no período.

"Quando levamos em consideração todos os gastos do governo, nos comportamos como se fôssemos uma nação desenvolvida", avalia Zeina. Mas, se por um lado os gastos foram feitos, os frutos não foram colhidos. "Essa é uma lição importante. É essencial que um país com dimensões como as nossas tenha esforços mais coordenados para dar efetividade às políticas públicas", reflete. Essa falta de esforços coordenados, segundo ela, acabou gerando uma sobrecarga do ponto de vista de políticas econômicas.

Para Zeina, uma estratégia imprescindível é o desenvolvimento de maior controle social, de forma que, mesmo em situações de pressão política, o país conte com uma máquina que funcione. "Os Estados Unidos, mesmo com todas as restrições e a negação do Trump em relação às questões de saúde, conseguiram se organizar para ter vacinação tempestiva. Sei que não é uma comparação justa, mas é um desafio para aumentar a efetividade da nossa máquina pública de modo que o ponto final seja sempre o cidadão", analisa.

Outro ponto importante, segundo a economista, é a disciplina fiscal, que gera consciência na hora de gastar os recursos sem esquecer do futuro. "Nosso dia seguinte [à pandemia] está sendo muito duro, porque houve falta de calibragem nas políticas públicas. É essencial a noção de disciplina fiscal para que, em momentos difíceis como os que passamos, haja espaço para fazer gastos sem maiores consequências no ambiente macroeconômico", aconselha.

O cuidado no desenho das políticas públicas para reparar essas consequências é, para Zeina, o caminho a ser seguido. Ela ressalta que, antes de aprovar novas medidas, é necessário garantir que elas estarão bem desenhadas e que serão entregues a quem realmente necessita. "Quando vemos discussões sobre vale-gás, por exemplo, você beneficia todos os consumidores de um produto, mas a ideia é beneficiar só as camadas mais populares", alerta. Igualmente importante é avaliar o auxílio oferecido às empresas: algumas delas ficaram para trás em relação à digitalização e automação de processos, e a consultora de economia sugere que haja, também, uma análise cuidadosa do grupo que precisa de ajuda. 

"Às vezes ela não precisa, tem como captar recursos de outra forma", exemplifica. Mas não é apenas com a concessão de recursos que a situação será revertida. O Custo Brasil e a insegurança jurídica, por exemplo, desencorajam os investimentos com regras que mudam com muita frequência, e, muitas vezes, sem critérios. "É preciso ter uma previsibilidade no ambiente de tomada de decisão para que os players tenham tranquilidade para investir", finaliza Zeina, indicando caminhos para que os aprendizados gerados pelas dificuldades sejam justamente a solução delas.

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Quarta, 24 Abril 2024

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