Farsul demonstra preocupação com o futuro do agro no RS
O presidente apontou a severa crise climática como o epicentro das dificuldades do estado. "Estamos vivendo uma crise climática no Rio Grande do Sul bastante acentuada. A crise está posta; as causas é que são discutíveis, e quem pode dizer é a ciência", alertou. Esses eventos climáticos extremos já atrasaram o PIB gaúcho. Embora não haja risco de desabastecimento de alimentos, bilhões de reais deixam de circular na economia estadual. "Como o Rio Grande do Sul é um estado agrícola, quando a agricultura falha, evidentemente deixa de circular riqueza entre todos nós gaúchos", explicou. Para mitigar esses efeitos nos próximos anos, a entidade defende que medidas de estabilização de safra, como irrigação, são estratégias para o futuro da economia gaúcha.
O setor vive a quinta safra consecutiva com problemas, registrando uma perda de 6% na produção de grãos em relação a 2024. A instabilidade foi tão grande que a Farsul abandonou os modelos tradicionais de projeção de safra, divergindo de instituições como IBGE e Conab. Observa-se uma retomada da soja, mas redução crítica do arroz, e a entidade desaconselha a manutenção da área plantada diante das incertezas. O economista da entidade criticou o modelo de crescimento nacional. "O Brasil cresce menos que o mundo desde 2015. Vemos um crescimento baseado em impulsos fiscais, que geram crescimento de curto prazo, inflação e aumento de juros. Assim têm sido as nossas últimas décadas", recordou Antônio da Luz. Segundo ele, a diferença acumulada de crescimento em relação ao mundo entre 2004 e 2024 chega a 24%.
Apesar disso, o PIB da agropecuária se recuperou em 2025 após um ano difícil em 2024, com perdas importantes de safra: a taxa chegou a 10,5%. "O agro está mais uma vez ajudando o PIB brasileiro", afirmou o economista. No Rio Grande do Sul, porém, o PIB do agro teve redução de 10,7%. Ele também comentou a baixa taxa de desemprego, atribuída em parte ao aumento de trabalhadores informais e por conta própria, e projetou a inflação em 4,35% até o final do ano.
Para 2026, a desaceleração está posta
As perspectivas para 2026 apontam para uma clara desaceleração econômica. Após um crescimento expressivo, torna-se difícil sustentar o mesmo ritmo, conforme avaliou o economista. A estimativa para o PIB do agronegócio em 2026 é negativa: 1,1% no Brasil. No Rio Grande do Sul, puxado sobretudo pela soja, o crescimento é projetado em 36,7%. Entre os principais desafios destacam-se uma crise de crédito que pressionará o PIB do agronegócio e uma taxa de investimentos considerada insuficiente para preparar o país para um mundo de altíssima tecnologia. Antônio da Luz alertou ainda que 56% dos 14% da poupança nacional retida está sendo direcionada para financiar a dívida pública, reforçando a necessidade de transição de um modelo baseado em gastos para um focado em investimentos – mudança que, segundo ele, depende fundamentalmente de estabilidade econômica e segurança jurídica.
A taxa de investimentos baixa também preocupa. "Como o Brasil estará preparado para um mundo de altíssima tecnologia com essa taxa de investimento?", ponderou. Entre os 14% retidos em poupança, 56% está sendo utilizado para financiar a dívida do setor público "Precisamos sair de um modelo que funciona a base de gastos, e passa para um modelo de investimento. Mas isso não vamos atingir se não tivermos estabilidade econômica e segurança jurídica", defendeu Antônio da Luz. O economista mostrou convicção de que haverá queda na inflação, puxada pelo índice de preços no atacado, o que permitirá a redução gradual da taxa Selic ao longo de 2026, chegando a 12% em dezembro. No entanto, fez uma ressalva. "Teremos Selic de dois dígitos por muito tempo, a menos que surja uma recessão econômica", previu.
Problemas fiscais e crises de crédito em destaque
A questão fiscal é a maior preocupação. "O que mais está nos preocupando para 2026 é o arcabouço fiscal", disse o economista, alertando que a regra, que deveria fechar em déficit zero ainda no ano passado, já foi rompida. Ele teme que o descumprimento da meta derrube a credibilidade do país. O pagamento de juros da dívida deve chegar a R$ 1 trilhão nos próximos anos. Outra preocupação central da entidade é a drástica redução dos recursos para despesas discricionárias do governo federal. Esse contingenciamento de verbas tem impacto direto no campo, deixando os pequenos produtores especialmente vulneráveis, uma vez que recursos essenciais para políticas agrícolas de apoio desaparecem. "Temos dito aos produtores que aqueles que forem dependentes do governo terão muitas dificuldades", alertou o economista da Farsul.
O cenário se agrava com o que classificam como "a maior crise de crédito da história" para o setor. A despeito dos anúncios oficiais, a realidade mostra um Plano Safra 2025/26 com queda de 14% em relação ao ciclo anterior, além de uma projeção de queda adicional de 15% para o próximo período, estrangulando o financiamento da produção. Como resultado, a inadimplência no crédito rural está em 11,4% a nível nacional.
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