Preparado para a inteligência?

Segundo nota publicada no início de junho, integrantes da Agência Brasileira de Inteligência, a Abin, e seus superiores da Secretaria de Assuntos Estratégicos, a SAE, teriam se queixado ao presidente Michel Temer de não terem o escopo de seu trabalho...
Preparado para a inteligência?

Segundo nota publicada no início de junho, integrantes da Agência Brasileira de Inteligência, a Abin, e seus superiores da Secretaria de Assuntos Estratégicos, a SAE, teriam se queixado ao presidente Michel Temer de não terem o escopo de seu trabalho bem definido, bem como de sofrerem preconceito quanto às atividades que desempenham. Preconceito este derivado, segundo eles, da ideia de que sua atuação assemelha-se a de órgãos de espionagem dos tempos do regime militar (leia aqui).  

Fazendo um confessada ginástica temática, aproveito o gancho para falar dos departamentos de inteligência competitiva com o qual muitas grandes empresas contam.

A função teórica dessas áreas, nas corporações, é apoiar as decisões através da coleta e da análise de dados e informações, especialmente a respeito do ambiente em que a empresa atua, o que inclui seu mercado, seus concorrentes e sua clientela. Esse auxílio pode ser prestado via boletins informativos periódicos, nos quais se compilam as informações mais essenciais para o dia a dia organizacional,  ou através de análises realizadas sob demanda, para finalidades mais específicas.

Até aí, tudo perfeito. No entanto, assim como ocorre com outros departamentos ou funções, não raro a inteligência competitiva serve apenas “para bonito” – ou seja, como fornecedora de dados solenemente ignorados na hora da decisão, ou mesmo utilizados ao bel prazer do gestor para justificar medidas já tomadas. 

A razão não é difícil de entender, ao menos para alguém que já vivenciou o dia a dia de grandes organizações. A administração de empresas vive entre dois mundos: um, teórico, a idealiza como um processo estritamente racional, linear, previsível e repetível. Outro, real, flagra-a como bastante emocional, intuitiva, descontínua e volátil. 

A criação de áreas de inteligência competitiva, entretanto, muitas vezes obedece à lógica do mundo idealizado do management. Serve para sinalizar, para os de dentro e os de fora da organização, que esta acredita na racionalidade que rege a administração, da mesma forma que uma bandeira hasteada na entrada do prédio indicaria patriotismo.

Porém, a distância entre dizer-se e mostrar-se patriota é tão grande quanto a de afirmar decidir com base em dados e de fato fazê-lo. Pode-se manipular perfeitamente as aparências para que uma decisão seja vista como legítima, inteligente e defensável, ao apenas recolher e deixar visível o uso de informações que a corroboram. Por isso, para que uma secretaria de governo, uma agência de inteligência ou um setor de inteligência competitiva funcionem, é fundamental sinceridade de propósito ao institucionalizá-los – e é sobre isso que falo na semana que vem.

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Quinta, 25 Abril 2024

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