Cooperativismo: o futuro do movimento
O avanço e as dificuldades do movimento cooperativista impõem novos desafios de governança. "O crescimento e a complexidade que o próprio movimento alcançou transformaram cooperativas em grandes organizações que precisam, com urgência, conciliar a proximidade com os associados e a eficiência operacional advinda da profissionalização da gestão", aconselha Vanir Zanatta, presidente da Ocesc. Esse equilíbrio é um desafio constante e demanda práticas reforçadas de conformidade, integridade e transparência, além de uma gestão estratégica de riscos. A qualificação e a sucessão garantem que os valores comunitários não se percam diante da profissionalização e que as cooperativas mantenham protagonismo local. "Precisamos preparar novas gerações de dirigentes e gestores capazes de manter os princípios cooperativistas vivos, mas com uma visão moderna de mercado, sustentabilidade e inovação", salienta Zanatta.
Nas pequenas cidades, o desafio é garantir capilaridade e sustentabilidade financeira. Para enfrentar esse cenário, o presidente Ocesc recomenda uma série de medidas práticas. Entre elas, o investimento na formação e na sucessão de lideranças, com o objetivo de fortalecer o protagonismo das comunidades locais. Além disso, ele aponta que cooperativas de menor porte podem agregar valor ao negócio por meio da oferta de serviços compartilhados, ampliando sua eficiência e competitividade.
Além disso, a inovação contínua deve ser incorporada como uma prática essencial. Cooperativas que adotam tecnologias, como Inteligência Artificial (IA) e análise de dados, conseguem não só otimizar operações, mas também oferecer novos produtos e serviços. Essa capacidade de adaptação garante competitividade e abre novas frentes de negócios, o que é crucial em um mercado cada vez mais exigente. Mas, para Zanatta, talvez o impacto mais transformador seja a inclusão digital. "As cooperativas têm levado tecnologia e capacitação para comunidades que antes estavam à margem desse processo", testemunha ele.
Outro aspecto importante é a responsabilidade social e ambiental. As cooperativas podem transformar suas comunidades, incentivando ações sustentáveis e promovendo inclusão. "Nas enchentes que atingiram o Sul, especialmente o Rio Grande do Sul, vimos isso acontecer. A resposta foi rápida porque o cooperativismo financeiro funciona de forma diferente do sistema tradicional. As decisões são tomadas localmente e o foco está no impacto social, não só no lucro. Isso gera confiança e um sentimento de pertencimento, que são ainda mais valiosos em tempos difíceis. A grande lição desses eventos é que estar perto das pessoas e ter senso de comunidade são vantagens reais", reforça Zanatta,
A intercooperação entre cooperativas de diferentes ramos e regiões é essencial para ampliar escala, reduzir custos e viabilizar soluções antes inacessíveis. A profissionalização da gestão e o uso de tecnologias, com apoio de consultorias, treinamentos e programas como os do Sescoop/SC, modernizam processos sem romper o vínculo comunitário. Segundo Zanatta, a sustentabilidade do setor depende da combinação entre governança técnica, lideranças capacitadas, diversificação de negócios, cooperação institucional e adoção tecnológica. Nesse contexto, o foco nas pessoas segue como diferencial competitivo, pois onde há união, há desenvolvimento, e onde há cooperativa, há futuro.
Lições do cooperativismo
A gestão das cooperativas guarda lições importantes para empresas de todos os portes. Na Universidade de Caxias do Sul (UCS), onde o estudo do cooperativismo é parte da identidade acadêmica, a professora Claudia Mara Sganzerla, coordenadora da especialização em gestão de cooperativas, vê nesse modelo princípios e práticas que podem inspirar uma gestão mais sustentável, inclusiva e resiliente. "O cooperativismo é a materialização da força coletiva e de um crescimento que beneficia a todos. Quando vemos que ele já é a escolha de vida para mais de 25,8 milhões de brasileiros, percebemos a dimensão e a responsabilidade que temos", afirma Claudia.
Na UCS, cursos e pesquisas são fruto de cooperação com o Sistema Ocergs/Sescoop-RS e a Escoop, modelo que direciona a inovação às necessidades reais. A pesquisa e a formação na UCS destacam alguns pilares do cooperativismo que têm aplicação direta no mundo corporativo: governança participativa, foco na comunidade, educação contínua, visão de longo prazo (ESG) e forte capacidade de adaptação a riscos. Assim, com decisões tomadas com base no interesse coletivo e no longo prazo, o cooperativismo demonstra como é possível conciliar performance econômica robusta com impacto social positivo e sustentabilidade.
Este conteúdo é a parte 4 do especial "A Força do Sul — Cooperativismo"
Em 2025, Ano Internacional das Cooperativas (ONU), o anuário 500 MAIORES DO SUL publicou um ranking especial do cooperativismo, que abrange os setores de produção, saúde e crédito, reconhecendo seu impacto nas comunidades. O ranking é publicado pelo Grupo AMANHÃ com o apoio técnico da PwC Brasil. Leia o anuário digital completo clicando neste link.
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