O que é que Canela tem?

No mês de junho passado, viajei pela primeira vez pela Rota Romântica gaúcha, estrada que faz jus ao nome por suas curvas sinuosas ladeadas por árvores invernais, mirantes e cafés coloniais. Passamos pela encantadora Gramado e, poucos quilômetros dep...

No mês de junho passado, viajei pela primeira vez pela Rota Romântica gaúcha, estrada que faz jus ao nome por suas curvas sinuosas ladeadas por árvores invernais, mirantes e cafés coloniais. Passamos pela encantadora Gramado e, poucos quilômetros depois, surge Canela. Amor à primeira vista  ?  é o que dá subir a Rota Romântica.

Canela desperta todos os sentidos, diz um dos seus folhetos promocionais. Concordo. Encanta olhar a beleza da Catedral de Pedra da cidade, ouvir o som dos anônimos tocando instrumentos por suas charmosas ruas, tocar a delicadeza dos seus artesanatos, sentir o cheiro da neblina que lhe cobre e degustar seus sabores.

“Sabores de Canela” é o evento gastronômico da cidade que em 2015 comemora sua 6ª edição. Neste ano, os estabelecimentos participantes trazem em seus pratos a especiaria canela, cujo nome inspirou o da cidade em homenagem à caneleira que ali servia de ponto de encontro de tropeiros.

Esses eventos gastronômicos são uma excelente iniciativa para atrair clientes novos ou não aos restaurantes por oferecerem menus especiais a preços fixos incluindo entrada, prato principal e sobremesa. Mesmo São Paulo tendo atrativos culinários para todos os bolsos e gostos durante o ano todo, eu curto especialmente a Restaurant Week, evento gastronômico que em 2015 celebra sua 16ª edição na cidade, porque tenho a oportunidade de conhecer alguns restaurantes novos provando seus pratos a preços mais apetitosos. Degustar um prato novo e sabendo antes o quanto vou gastar me abre o apetite.

Contemplando o charme de Canela sentada em um café com uma taça de vinho, lembrei-me da minha pequena Manduri (SP), cidade de onde embarquei com destino à gigantesca São Paulo, sem escalas intermediárias. Em Manduri, comia comida caseira feita pela minha mãe em fogão de lenha e panela de ferro. Ao desembarcar em São Paulo, deslumbrei-me com seus shoppings gastronômicos, onde são fartas as opções de boas comidas em restaurantes estrelados ou em botecos de esquina.

Hoje, algumas tradicionais caipirices de minha infância se afrancesaram e viraram gourmet, como as festas juninas que adotaram o sobrenome gourmet. Nelas você pode escolher entre uma paçoca simples custando um dígito e uma gourmet na faixa dos dois dígitos. Gourmet, segundo o dicionário Houaiss, é o indivíduo que é bom apreciador e entendedor de boas mesas, de bons vinhos e se regala com finos acepipes e bebidas.

A onda da gourmetização abocanhou também a velha Kombi. Curti muitas festas de interior onde o burburinho acontecia na praça principal, rodeada de Kombis que vendiam diversas comidinhas servidas em mesas e banquinhos de plásticos ali espalhados. Hoje, os herdeiros da Kombi são veículos de diversos modelos estilizados chamados de food trucks e no lugar das cadeiras e mesinhas de plásticos, estão agora os charmosos banquinhos de ferro ou madeira.

Em tempos de crise, como os de hoje, quando comer fora sai do cardápio de muita gente, algumas cidades poderiam explorar todos os seus cinco sentidos, como faz Canela - ou incentivar apenas o do paladar, com eventos gastronômicos que sejam ou não gourmets. Ou, ainda, abrir os portões para os primos da velha Kombi, os food trucks. Afinal, toda cidade tem o seu paladar especial, com ou sem canela.

*Celina Moraes é autora do romance “Lugar cheio de rãs”.

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Quinta, 12 Dezembro 2024

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