Não podemos esperar mais de um século para mudar

Muito se tem falado sobre os benefícios que a diversidade exerce sobre os resultados dos negócios. Mais de 75% das empresas declaram ter esse tema como prioridade estratégica, mas na prática, os números ainda não denotam uma mudança significativa. As...
Não podemos esperar mais de um século para mudar

Muito se tem falado sobre os benefícios que a diversidade exerce sobre os resultados dos negócios. Mais de 75% das empresas declaram ter esse tema como prioridade estratégica, mas na prática, os números ainda não denotam uma mudança significativa. As mulheres permanecem sub-representadas em todos os níveis. Quanto mais alto o nível, menos provável encontrar mulheres em posição de destaque nas organizações e na sociedade. 

Segundo dados da PNAD 2015, apesar de representarem mais da metade da população brasileira e 44% da parcela economicamente ativa, as mulheres representam apenas 37 % das posições executivas e menos de 10% dos cargos de CEO e conselheiras. Se mais esforços não forem engendrados por todos nós, esse quadro estarrecedor levará mais de um século para ser mudado. E isso não é tudo. Estudos da consultoria McKinsey, de 2015, já demonstravam que a redução da desigualdade de gênero poderia adicionar, até 2025, US$ 12 trilhões ao PIB mundial. No caso do Brasil, o impacto poderia significar um incremento da economia entre 14% e 30% no mesmo período. 

Quando mergulhamos para entender esses e outros fatores que afetam o avanço das mulheres no mundo organizacional percebemos que esses dados revelam apenas a ponta do iceberg. Ainda hoje, nos ambientes corporativos, prevalece uma cultura de comando e controle e a valorização de um estilo de liderança com características mais masculinas. Podemos perceber isso nos números de contratações e promoções, nos quais elas possuem taxas menores do que os homens e têm menos acesso aos fatores que podem acelerar os seus avanços. 

E esse cenário é tão grave que quando olhamos para as mulheres mais jovens,43% ambicionam se tornar uma executiva de primeira linha, mas, depois de dois anos, somente 24% delas acreditam que vão conseguir chegar lá, o que pode acenar um problema ainda maior para o futuro. Por outro lado, tanto homens quanto mulheres estão, hoje, preocupados com um maior equilíbrio entre vida e trabalho, mas a análise de custo-benefício é diferente. Segundo levantamento do Instituto Gallup, 60% das mulheres avaliam que o maior equilíbrio é extremamente importante na decisão do emprego e permanência nele. Em países como o Brasil, a situação ainda é pior porque elas contam com dupla jornada. Flexibilidade e políticas de apoio são muito bem-vindas, mas necessitam ser genuínas para trazer impacto efetivo e não se transformarem em mais uma fonte de preconceito. 

Para isso, é preciso mudar a mentalidade atual, que está por trás do modelo de gestão das organizações e que vincula fortemente o desempenho à disponibilidade e ao número de horas de trabalho, no lugar de considerar fatores como produtividade e resultados efetivos. Essa mudança beneficiará todas as pessoas e não somente as mulheres. O que dificulta essa transformação do mindset é que os homens, que normalmente são os tomadores de decisão no mundo corporativo e que podem contribuir para mudar esse cenário, em geral criam uma barreira à comunicação com a liderança feminina. Essas crenças limitadoras se iniciam ainda muito cedo, na infância, quando há por parte dos pais, da escola e até da sociedade, um reforço à liderança masculina e um desincentivo às meninas assumirem papéis de maior protagonismo. Além disso, há uma forte cobrança em relação à maternidade e cuidados com a família, o que contribui para a perda da autoconfiança e limitação das futuras escolhas profissionais das mulheres.

O Mundo VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo) traz mudanças que afetam profundamente as nossas vidas e a nossa forma de trabalhar e gerir pessoas. Os problemas são cada vez mais complexos e demandam soluções rápidas e criativas em ambientes colaborativos que incentivem múltiplas perspectivas. A ampliação da participação feminina nos níveis executivos pode agregar a esse ambiente um estilo de liderança orientado por propósito e valores, uma visão de longo prazo, oportunidades de colaboração, inovação e desenvolvimento das equipes, maior engajamento e retenção de talentos, melhor conexão com os clientes e com a marca e, consequentemente, resultados mais sustentáveis.

Diante desse cenário, convido você a refletir: como pais e mães, o que temos feito para perpetuar a desigualdade de gêneros? E como líderes, o que podemos fazer diferente hoje?

*Consultora, mentora, coach executiva e membro do Grupo Nikaia.

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Sábado, 23 Agosto 2025

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