Empreender a qualquer custo

Impulsividade com dinheiro são coisas que não combinam
Conheço gente que abandona empregos onde podem não estar muito satisfeitos, por achar que, uma vez fora, terão cabeça mais desimpedida para pensar criativamente sobre seus futuros passos

De Paris (França)

Não vou fazer aqui a apologia de que quem puder se tornar rentista, que se torne, e que não empreenda. Longe disso. Quem tem os meios financeiros, mesmo que eles não sejam muitos, está mais do que legitimado, está quase obrigado, a prospectar o mundo à volta e tentar fazer alguma coisa de edificante com eles. Fazer riqueza e distribuí-la são coisas axiomáticas de nosso credo e poucas coisas dignificam tanto o ser humano quanto "ser produtivo", levantar cedo, fazer cada mais e cada vez melhor, e assegurar uma educação de qualidade para seus com o suor de seu rosto.

Mas hoje quero falar dos que não se prepararam devidamente para isso. Conheço gente que abandona empregos onde podem não estar muito satisfeitos, por achar que, uma vez fora, terão cabeça mais desimpedida para pensar criativamente sobre seus futuros passos. É uma bobagem. Ora, eis uma pandemia como esta que paralisou o mundo, e ei-lo pagando um preço altíssimo. Bem ou mal, no emprego anterior, tinha receita e, sobretudo, estava inserido num meio que acompanhava de perto as transformações do mundo a partir de uma plataforma privilegiada, que é o das multinacionais.

Agora, desempregado há meses, tendo enterrado os recursos (e os de terceiros) com que saíra num empreendimento ruinoso sob quaisquer aspectos que seja visto, ei-lo no pior dos mundos. E tudo isso em nome do quê? Do chavão remanchado de ter um negócio, por achar que, por definição, um "patrão" vai sempre ganhar mais do que um empregado ou um executivo, por alto que seja. Eis um enorme engano. Abrir um negócio, mesmo que seja uma franquia que aperte as margens de manobra, implica ser desafiado em muitas dimensões não testadas.

Adiar os prazeres, comunicar com clareza, viver a baixo custo, e aguentar firme uma quantidade colossal de frustrações próprias da decolagem. Se nada disso constitui grande novidade, há de se deplorar quando se gasta dinheiro duramente acumulado e ganho em negócios que só serviam para dar um simulacro de identidade e de pertencimento, num momento em que o sujeito era assolado talvez por outras necessidades de afirmação individual. Nessas horas, recomendo vivamente umas sessões de "coaching" com quem de direito. Impulsividade com dinheiro são coisas que não combinam.

Antes que seja tarde. 

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Comentários: 1

Gustavo José Nedel em Quarta, 08 Julho 2020 16:28

Eu penso que impulsividade sem dinheiro é que é de fato problemático!
Aqueles que vivem (contam) com o limite do cartão de crédito e do cheque especial que me corrijam se estou errado.

Eu penso que impulsividade sem dinheiro é que é de fato problemático! Aqueles que vivem (contam) com o limite do cartão de crédito e do cheque especial que me corrijam se estou errado.
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Quarta, 11 Dezembro 2024

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