A China se tornou o maior parceiro do Brasil. Parceiro?
As últimas rodadas de privatizações das distribuidoras de eletricidade reafirmaram o apetite da China pela infraestrutura brasileira. Hoje, o gigante asiático é o principal investidor e parceiro comercial por aqui. De acordo com um estudo da Secretaria de Assuntos Internacionais do Ministério do Planejamento, foram contabilizados 235 projetos de investimentos diretos anunciados pela China no Brasil, em um total de US$ 103,6 bilhões entre 2003 e 2017. Convenhamos que os investidores chineses gostam muito de fazer anúncios, para depois ver se conseguem obter vantagens. Tanto é que, dos 235 anunciados, apenas 87 foram confirmados – um valor acumulado de quase R$ 50 bilhões – o que já é muito. As áreas são diversificadas, passando por petróleo e gás, manufaturas e alimentos, entre outras.
Esses investimentos têm de ser observados com atenção. Primeiro porque parte não são projetos novos (greenfields); são simplesmente vendas de ativos de empresas que já operam (brownfields). Isso melhora o caixa de quem vendeu, mas não promove, necessariamente, desenvolvimento do setor. Por essa razão, Estados Unidos e Alemanha passaram a restringir a entrada de dinheiro chinês.
Para os projetos novos, nos quais aportes são sempre bem-vindos, a ameaça está mais escondida, nas importações de máquinas e equipamentos. Isso ocorreu diversas vezes nos investimentos chineses em países africanos como, por exemplo, no setor de geração e transmissão de energia. As companhias chinesas trouxeram todos os equipamentos (turbinas, geradores, subestações e cabos) da China, mesmo tendo oferta competitiva no mercado internacional. E essas preocupações não são só do Brasil. Com a globalização, a nação liderada por Xi Jinping (foto ao lado) virou uma superpotência mundial e, portanto, interage com todos. Estamos nos tornando o Planeta China. E para dar algum parâmetro de como devemos tratar essa potência, seria interessante olhar como a China trata os investimentos e o comércio dos outros países no seu território.
O país controla, com punho de ferro, o acesso ao enorme mercado interno. Não só em relação a produtos e tecnologia, mas até mesmo as manifestações políticas dos países com o governo chinês. Já sabemos que você tem de ter um programa de transmissão de tecnologia para operar na China; agora, também tem de estar alinhado politicamente. Só para ficar em um caso, no ano passado, a Noruega teve de passar por anos de negociações e prometer ter “na mais alta conta os interesses centrais e grandes preocupações da China” para conseguir restabelecer os laços comerciais, após Pequim punir Oslo devido à decisão, em 2010, de um grupo independente nomeado por políticos noruegueses de laurear, com o Prêmio Nobel da Paz, o dissidente chinês Liu Xiaobo.
Assim, interesses particulares do país são peças que fazem parte do tabuleiro global de investimento e acesso a mercados. Quando olhamos os investimentos chineses no mercado brasileiro de geração e distribuição de energia, temos a impressão de que estamos indo para uma arapuca de desindustrialização de componentes para esse setor. E, se isso acontecer, o segmento de cabos de alumínio sofrerá um grande impacto.
A indústria brasileira é competitiva. As nossas empresas fabricam com qualidade e custos mundiais. Podemos concorrer com qualquer empresa, mas elas não podem disputar com um país. Se estamos no Planeta China, vamos continuar vivendo e trabalhando no País Brasil. Temos de pensar nisso ao receber produtos e investimentos de Pequim.
*Presidente executivo da Associação Brasileira do Alumínio (Abal).
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