A jogada da Metalgráfica para elevar valor de face de suas ações

Você pode nunca ter ouvido falar da Metalgráfica Iguaçu (foto), mas certamente já comprou algum produto que tivesse uma embalagem da empresa que fornece latas de alimentos para Cargill, Heinz, Bonduelle e Bunge. Passando po...

Você pode nunca ter ouvido falar da Metalgráfica Iguaçu (foto), mas certamente já comprou algum produto que tivesse uma embalagem da empresa que fornece latas de alimentos para Cargill, Heinz, Bonduelle e Bunge. Passando por duas crises internas e uma internacional que quase acabaram com ela em 15 anos, a companhia paranaense pretende elevar o valor de face de suas ações. Na onda de grupamentos de small caps, a Iguaçu comunicou ao mercado que fará assembleia com acionistas no dia 29 de abril para aprovar um grupamento de ações na proporção de 50 para 1. Com um papel atualmente cotado a R$ 0,06, ele passaria a valer R$ 3. Se na teoria o preço da ação fica mais atrativo ao mercado, na prática é que esses anúncios normalmente não são boa notícia nem para a empresa e muito menos para seus acionistas. 

Um caso recente que provou ser uma verdadeira "cilada" foi o dos grupamentos da JB Duarte. A fabricante de bambu e eucaliptos agrupou suas ações ordinárias e preferenciais no dia 15 de dezembro, na razão de 100 para 1, tirando as cotações de ambas da incômoda região abaixo de R$ 0,10. No entanto, no pregão seguinte, as ações da companhia despencaram por volta de 50%. De lá para cá, a desvalorização chega a 41,6%. Se o caso da JB Duarte é considerado distante demais das "grandes empresas" da BM&FBovespa, ainda há o exemplo da Oi. No final do ano passado, a companhia realizou um grupamento na proporção de 10 para 1. No primeiro pregão pós-grupamento, os papéis da empresa de telecomunicações despencaram 10% e estenderam suas perdas ao longo deste ano.

Fugindo da BM&FBovespa
Em uma resposta à “ameaça” da BM&FBovespa de banir ações que valem menos de R$ 1 na Bolsa, muitas "penny stocks" têm anunciado grupamentos de ações. O objetivo é aumentar o valor de face de cada papel através da diminuição da quantidade de ativos negociados na BM&FBovespa. A operação, em um primeiro momento, é vista como positiva, pois dá maior liquidez para ativos que eram negociados próximos de R$ 0,01. No entanto, os grupamentos têm aberto espaço para que aquelas ações que não tinham mais como cair simplesmente…voltassem a cair.

O preço da ação nessas situações não foi elevado porque mais pessoas decidiram comprar, o que faz um papel se valorizar. O que ocorre, na verdade, é que o número de açõess disponíveis no mercado diminuiu. No caso da Metalgráfica Iguaçu, por exemplo, para cada 50 ações que circulam hoje, haverá apenas uma em caso de aprovação. No caso, com 312,5 milhões de ações de capital social, a companhia passará a ter 6,2 milhões. Então, o valor que cada acionista da companhia terá em mãos após a operação será igual ao que ele tinha antes, pois apenas o número de ações em sua carteira será menor. 

Isso significa que o mercado pode olhar para fundamentos da empresa como endividamento, fluxo de caixa, Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), etc e enxergá-la como "cara" no patamar pós-grupamento. Com isso, surge uma pressão vendedora, já que o investidor não vai querer ter em suas mãos um papel sobrevalorizado. A consequência direta desse cenário é que os papéis que quase não tinham mais para onde cair quando a ação valia perto de 1 centavo, abriram um espaço enorme para desvalorização. 

A persistente Metalgráfica Iguaçu
No caso específico da Metalgráfica Iguaçu, o preço da ação já caiu 85% desde a metade de 2008, quando cada papel custava R$ 0,40. Em seu último resultado, no terceiro trimestre do ano passado, a empresa reportou um lucro líquido de R$ 1,5 milhão. Apesar disso, no acumulado até o terceiro trimestre de 2014, a companhia obteve prejuízo líquido de R$ 4,7 milhões. Apanhando diversas vezes na sua história, a empresa paranaense que surgiu em 1951 só fabricava latas de óleo de soja até o ano 2000, quando os consumidores passaram a trocá-las por garrafas PET. A Iguaçu se reinventou depois desta crise e passou a fabricar embalagens de alimentos diversos, vendendo-as principalmente para a gigante JBS, do empresário Joesley Batista, que era responsável por 45% do mercado consumidor da Metalgráfica. Em 2010, no entanto, a JBS comprou a Bertin, que também fabricava embalagens e passou de principal cliente a concorrente. 

A receita líquida anual da small cap, como consequência, caiu de R$ 92 milhões em 2010 para R$ 51 milhões em 2013. Mesmo atingindo o fundo do poço, a empresa de Ponta Grossa não desistiu e se reinventou novamente até ver o seu faturamento crescer 66%. "Foi quando iniciou a recuperação desse mercado diversificando os clientes", explica Rogerio Marins, diretor-presidente da companhia. Além disso, no início do terceiro trimestre de 2014, a Iguaçu firmou um contrato com a Metalgráfica Rojek, para fabricar a lata “Abre Fácil Rojek”, aquela usada para alimentos em conserva como azeitonas e picles. Ela responderá por metade da receita esperada para este ano.  

A empresa também adotou algumas medidas de austeridade fiscal ao se desfazer de imóveis em São José do Rio Preto (SP), por exemplo. “A administração da companhia vem empreendendo esforços significativos na adequação dos seus custos operacionais e alavancagem de vendas e margens, culminando em orçamento com perspectivas de lucros nos próximos exercícios, compensando os prejuízos acumulados em exercícios anteriores", prometia o balanço da empresa  na ocasião do anúncio dos resultados do terceiro trimestre de 2014. Marins afirma que a única finalidade do grupamento de ações é realmente fazer com que a companhia de adeque às novas exigências da BM&FBovespa. "Os objetivos da empresa continuam os mesmos expressos nos nossos balanços trimestrais", garante, explicando que quanto a uma possível desvalorização posterior à operação, a companhia não comentaria já que isso depende das forças de mercado. 

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Sábado, 14 Dezembro 2024

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