Apenas 15% das empresas familiares brasileiras está com a jornada digital em dia

Pesquisa da Pwc/FDC aponta alto nível de resiliência dos gestores na crise, mas há lições por fazer
O investimento em inovação, seja nas atividades atuais ou na busca de novos negócios e produtos, é o grande desafio reconhecido pelas famílias empresárias

A pandemia provocou uma série de impactos e obrigou mudanças nas relações sociais e gerou reflexos no setor produtivo. Empresas que planejavam a absorção das tendências ao longo dos anos – como a passagem do analógico para o digital, o fortalecimento do e-commerce, o avanço do ensino a distância e do home office – tiveram de se adequar em tempo recorde. Com as empresas familiares de pequeno e médio porte, a situação não foi diferente. Como todo "tsunami", a crise surgiu de repente, trazendo ondas de choque de todos os tipos.

Negócios que fazem parte dessa linhagem, voltada à tradição, preocupação com a longevidade e gestão, estão lidando melhor com o novo cenário produzido pela pandemia. Essa é a opinião do professor PhD em governança, Dalton Sardenberg, da Fundação Dom Cabral (FDC), da qual a JValério Gestão e Desenvolvimento é associada no Paraná, interior de São Paulo e Rondônia. Com base em pesquisas realizadas pela FDC e a PwC, Sardenberg ressalta que as empresas familiares estão apresentando boa resiliência diante das tempestades econômicas com origem na Covid-19. O professor integrou a equipe brasileira de um estudo que envolveu 282 empresas, entre 2600 empresas no mundo todo.

"Foi muito interessante perceber que as empresas familiares brasileiras tiveram um desempenho melhor que a média global, segundo esse levantamento. O impacto no país foi menor em termos de perda de lucratividade: 39% no país contra 51% na média global", anuncia Sardenberg. A pesquisa também traz alertas: 85% dos entrevistados brasileiros confirmam que a digitalização, inovação e tecnologia são prioridades, mas apenas 15% (contra 19% da média global) confirmam estar com sua jornada digital completa. Outros 72% (foram 62% na média global) reconhecem que há um longo caminho a percorrer.

Multigerações
As empresas familiares multigeracionais têm uma grande vantagem. Pela sua própria existência, elas demonstram capacidade de evoluir para atender às novas demandas, por vezes honrando o legado e, simultaneamente, mantendo os valores da família. Muitas empresas familiares de grande porte em funcionamento há mais de um século já se reinventaram várias vezes. Na visão de Clodoaldo de Oliveira, diretor executivo da JValério Gestão e Desenvolvimento, que atua diretamente na formação continuada dos gestores e têm contato com os executivos na sua rotina diária, é expressivo o potencial das famílias empresárias diante da crise. Uma característica que conta a favor delas é a flexibilidade e capacidade de adaptação.

"Nesse momento, os comandantes dos negócios precisam levar a gestão de riscos muito a sério e prever diferentes cenários. O planejamento se dá em um ambiente incerto e com mudanças rápidas, onde as perspectivas de curto e médio prazo para a maioria das empresas ainda são altamente imprevisíveis. E as famílias empresárias levam vantagem nesse quesito, porque pela própria natureza da sua existência, demonstram capacidade de evoluir para atender às novas demandas, sem deixar de honrar o legado e manter os valores do fundador, com quem têm um vínculo. É graças a essa capacidade de evoluir e se reinventar que vemos tantas empresas familiares funcionando a pleno vapor, há mais um século, atravessando as crises e prosperando", ressalta Oliveira.

A pesquisa foi feita para saber as expectativas dos empreendedores com relação aos próximos dois anos e os impactos gerados nos negócios por causa da pandemia. "Nossas empresas familiares estão otimistas em relação à retomada do crescimento a curto prazo. O nível de confiança caiu apenas três pontos em comparação aos dois últimos anos. É salutar ver esse nível de engajamento", destaca o professor. Mas para consolidar esse otimismo, Sardenberg afirma que algumas lições de casa importantes precisam ser feitas pelas empresas familiares para encarar a realidade de mudanças bruscas e frequentes.

"O que apareceu no levantamento é que o investimento em inovação, seja nas atividades atuais ou na busca de novos negócios e produtos, é o grande desafio reconhecido pelas famílias empresárias", relata Sardenberg. Se havia alguma dúvida de que inovações na área de tecnologia da informação, por exemplo, poderiam ainda ser consideradas supérfluas ou postergadas sob o pretexto da contenção de gastos, a pandemia tratou de eliminá-la. As empresas familiares que já dispunham de uma estrutura digital para absorver impactos causados pela Covid-19 se saíram melhor do que aquelas que tiveram que começar do zero para enfrentar a nova realidade. Nesses casos, as adequações resultaram em maior agilidade e menor impacto na administração das operações.

Criado pela FDC e disponibilizado também pela JValério Gestão e Planejamento, o programa Parceria para o Desenvolvimento do Acionista e da Família (PDA) é estratégico para ajudar na profissionalização e continuidade dos negócios nas empresas familiares. O PDA orienta as lideranças sobre a importância e como implementar novos instrumentos de gestão que contemplam a transformação digital e a ESG, por exemplo. O PDA abrange também a formação e preparação de sucessores e usa os mesmos princípios, conceitos, ferramentas de alinhamento e intercâmbio de experiências em redes de aprendizagem do PAEX (Parceiros Para Excelência), mais um programa da FDC dirigido para pequenas e médias empresas.

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Quinta, 28 Março 2024

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