Contra a mancha no mar, uma agenda de cobrança
Geralmente, aconselha-se a um gestor de investimentos que fique longe de temas políticos ou controversos. Mas às vezes, o custo de ficar calado é mais alto do que o de se expor.
Estamos assistindo ao maior desastre ecológico já ocorrido no litoral brasileiro, com danos a inúmeras famílias que dependem da pesca e do turismo além das próprias praias e a fauna marinha do Nordeste. O vazamento de petróleo já se espalhou pelos nove estados da região, atingindo mais de 2 mil quilômetros da costa. O Ibama divulgou que 78 municípios foram ‘manchados’ pelo resíduo em 200 pontos do litoral. Até o momento, mais de mil toneladas já foram recolhidas com a ajuda de voluntários — muitas vezes sem qualquer proteção para manipular um material cancerígeno.
De um lado, membros do governo federal e seus apoiadores acusam a Venezuela de ser a responsável, imputando culpa ao governo de Maduro. Do outro, os opositores do governo apontam o desleixo em matérias referentes ao meio ambiente, a demora na tomada de ações concretas para redução dos danos nas regiões afetadas e, especialmente, a irresponsabilidade de ter desmobilizado as equipes de especialistas de limpeza dos oceanos no início do ano.
Infelizmente, mais uma vez, um assunto grave de sustentabilidade e meio ambiente está sendo objeto da luta ideológica, deixando em segundo em segundo lugar uma agenda concreta para a prevenção e contenção de problemas ambientais. O Brasil precisa de uma investigação isenta e urgente para identificar a causa e evitar outro episódio semelhante.
Ao longo destes 26 anos gerindo recursos de terceiros, aprendemos que mais importante do que investir a longo prazo é investir com quem pensa longo prazo. Empresas que se preocupam com questões ambientais e sociais e que mantêm uma boa governança corporativa tendem a ser mais economicamente sustentáveis, correr menos riscos e automaticamente gerar mais retorno a seus acionistas. Devemos incorporar o respeito ao meio ambiente e aos direitos humanos nas características que buscamos nas companhias investidas, lado a lado com meritocracia e cultura de dono, características que o mercado já incorporou na lista de “características desejadas”.
Não devemos ter medo nem timidez. Todo o nosso ecossistema (clientes, investidores, empresas investidas, fornecedores e colaboradores) precisamos trazer para o topo de nossas agendas essas questões, atualmente confinadas e restritas a um pequeno espectro da sociedade. Em um momento como este, o pior a fazer é lavar as mãos. Se não nos envolvermos de corpo e alma, elas continuarão sujas de óleo.
*fundador da FAMA Investimentos. Artigo publicado originalmente no Brazil Journal.
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