Federações do Sul apontam desafios e oportunidades para o comércio exterior
Durante a premiação das mil maiores empresas exportadoras na quarta edição do Sul for Export, líderes de federações dos três estados do Sul discutiram as dificuldades e os desafios enfrentados pelas indústrias exportadoras no cenário internacional. As entidades acreditam que o Brasil precisa modificar sua política de governo em relação ao comércio exterior para evitar a desindustrialização. No ano passado, o país ocupava o 26º lugar entre os maiores exportadores do mundo, segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC). Para o vice-presidente da Federação de Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Cezar Müller, o que atravanca o crescimento do mercado exportador é o Custo Brasil, que engloba a carga tributária, a taxa de câmbio e a falta de infraestrutura do país. "Todo esse conjunto de fatores levam ao número de que o produto brasileiro custa 30% mais que o produto norte-americano", ressaltou.
O Rio Grande do Sul é o quinto maior exportador brasileiro, responsável por 40% das exportações no Sul e hoje possui um déficit entre empresas exportadoras e importadoras: 2.817 contra 3.733. Conforme Müller, o estado conseguirá ultrapassar essa diferença apostando na exportação de produtos manufaturados: no biênio de 2005 e 2006, as exportações de manufaturados brasileiros representavam 70% da pauta exportadora. Já entre 2015 e 2016, o índice despencou para 50%. "O processo de exportação de manufaturados leva mais tempo para subir, mas também traz maior rentabilidade: a cada US$ 1 bilhão de exportação de produtos manufaturados, 40 mil empregos diretos são gerados”, afirmou.
O superintendente da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), Reinaldo Tockus, lembrou das mudanças realizadas pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) que dificultaram o acesso on-line à lista das maiores empresas exportadoras por faixas de valor. "Hoje você não consegue absolutamente nenhum número a mais no site, que perdeu o sentido de existir", afirmou. Nos últimos anos, o ministério vinha listando as maiores empresas exportadoras por faixas de valor (em US$ FOB milhões). A mais alta corresponde a valores acima de US$ 100 milhões. No entanto, as publicações que fornecem detalhamento de país destino/origem (por CNPJ) e faixa de valor não serão mais divulgadas pelo MDIC. A pasta justifica que teve de tomar essa decisão por questões de sigilo fiscal e empresarial, atendendo a preceitos constitucionais como a inviolabilidade da intimidade e do sigilo de dados. A medida, no entanto, deve prejudicar o fomento de políticas públicas e privadas para a exportação, já que a falta de estatísticas minará estratégias de abertura de novos mercados.
O Paraná foi o estado do Sul que mais recebeu investimentos em 2017, tendo registrado aumento nas exportações de metalmecânica, madeira e móveis, papel e celulose, petróleo e gás e bens de capitais. Para Tockus, o desafio da Fiep e das demais federações nos próximos anos deve ser a integração da pequena indústria no cenário internacional. "O pequeno empresário industrial não se percebe no mercado global porque a empresa é pequena. Isso não é real. Quaisquer empresas, independentemente do tamanho, que tenham bom produto e boa aceitação no mercado, terão oportunidades no mercado internacional. O mercado global pode ser uma fatia permanente para a empresa", afirma.
Apesar de o estado registrar superávit todos os meses, a economia paranaense registrou perdas expressivas durante a greve dos caminhoneiros entre o fim de maio e o começo de junho. “Nossos exportadores acabaram pagando estadia e outros problemas derivados da greve dos caminhoneiros”, explicou Tockus, adiantando também que o setor de aves deve sofrer dificuldades para recuperar os prejuízos até o fim do ano. Com a crise enfrentada pela Argentina, que registrou desvalorização do peso em 30% e teve de recorrer a empréstimo de US$ 50 bilhões junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI) no primeiro semestre, o Paraná diminuiu seu volume de exportações ao mercado argentino, especialmente no segmento automotivo, que teve uma queda de 14%.
De cada cinco produtos que o Brasil exporta, um passa por Santa Catarina, segundo Sidnei Manoel Rodrigues, coordenador do Observatório da Indústria Catarinense da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc). O estado é o oitavo maior exportador no país e, assim como o Paraná, também quer incentivar a entrada das pequenas indústrias no cenário internacional. "O nosso desafio será avançar na criação de uma cultura de exportação entre micro e pequenas empresas", afirmou. Ainda que registre bons volumes de uma forma geral, o estado deixou de ter um grande parceiro comercial nos últimos anos: a Rússia, que passou do quarto ao 29º lugar entre os principais destinos, absorvendo apenas 0,4% do volume total embarcado. Por outro lado, Santa Catarina teve um aumento no total exportado à Argentina, que cresceu 11% em receita. Para Tatiani Leal, coordenadora do Centro Internacional de Negócios da federação catarinense, esse resultado deriva das tratativas que a entidade vem realizando para que o estado obtenha o Certificado de Origem Digital na Argentina e no Uruguai. "Com isso, é possível verificar se a empresa está preparada ou não para a exportação", declarou.
Para as federações do Sul, o país necessita de maior atenção do governo federal às pautas da indústria em relação ao comércio internacional, seja em acordos comerciais ou novas linhas de financiamento — hoje o Brasil possui o Programa de Financiamento às Exportações (Proex), linha de crédito disponibilizada pelo Banco do Brasil. “Mais do que nunca se queremos um Brasil forte, precisamos de um Brasil inserido no mercado internacional para aprendermos a competir", apelou Cezar Müller, vice-presidente da Fiergs.
*Com reportagem de Italo Bertão Filho.
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