Empresários chineses reclamam da demora na liberação de vistos para vir ao Brasil
A queixa é antiga, mas surpreendentemente continua atual, no "ano 50" de relações diplomáticas Brasil-China. Ainda ontem fui procurado por empresários que me pediram para tentar "acelerar" o processo, como se alguém externo aos consulados pudesse fazer isso. Expliquei a eles que talvez falte pessoal para a concessão de vistos, ou ela é muito lenta pelo excesso de burocracia, ou as duas coisas juntas. E que devem pressionar no próprio consulado no qual solicitaram o visto, porque os representantes brasileiros também têm interesse que eles venham. Objetivamente, a lentidão na emissão de vistos desanima empresários chineses interessados em vir ao Brasil, e em alguns casos, até impede. Há pouco tempo, soube de uma comitiva que desistiu de vir justamente pela demora na concessão dos vistos.
Por que o Brasil não toma a iniciativa de deixar de exigir o visto de cidadãos e cidadãs da China, a exemplo do que faz com tantos outros países há tanto tempo? Não apenas por ser o maior parceiro comercial do Brasil há 15 anos, mas para estimular a vinda de turistas e de quem queira participar de atividades culturais, esportivas, educacionais, rever parentes, visitar feiras e outros eventos, e até mesmo trabalhar, como fazem milhares de migrantes de tantos países. Dizem que a resistência à liberação do visto para a China está principalmente no receio do Brasil ser "inundado" por migrantes em busca de trabalho. Ainda que seja improvável isso acontecer, dada a diminuição da população economicamente ativa chinesa, é bom lembrar que a população brasileira está estabilizando e envelhecendo, e que muito em breve baixaremos dos 200 milhões de habitantes, em área duas vezes e meia a da Índia, país hoje com população maior do que a da China e que caminha para atingir 1,7 bilhão de habitantes. Portanto, se o temor é do Brasil ser "invadido", o risco mesmo é de migrantes indianos.
Enquanto o Brasil não age para alterar a atual reciprocidade de exigência de visto, então é bom que se mexa para aumentar a quantidade de funcionários nos consulados na China, que continua bem menor do que as demandas de todos os setores. Lembro-me quando nomearam o primeiro adido agrícola para a Embaixada em Beijing, em 2007, e em 2009 uma pesquisadora da Embrapa para "fazer a ponte" da pesquisa agropecuária do Brasil com a China. Nos dois casos, uma única pessoa, para dar conta das demandas do setor que deverá exportar esse ano, só de soja, um total de 100 milhões de toneladas. Avançaremos mais na exportação de alimentos para a China? Essa é a expectativa com a participação brasileira no Salão Internacional de Alimentação (SIAL), em Shanghai, de 28 a 30 de maio, com o apoio da ApexBrasil – que acaba de lançar uma publicação focada no mercado de espumantes e vinhos na China, e também no Canadá, Estados Unidos, Rússia e Colômbia.
Tomando-se como parâmetro a venda de carnes, setor no qual a China é o maior comprador dos produtos brasileiros, com US$ 8,2 bilhões em 2023, a notícia dia 12 de março da liberação pelo governo chinês de mais 38 plantas (24 abatedouros de bovinos e oito de frangos; um termoprocessador bovino; e, atendendo antiga reivindicação do setor, inéditos cinco entrepostos – três de frango, um de suíno e um de bovino), que se somam às 106 plantas habilitadas até o início de março (47 de frangos, 41 de bovinos, 17 de suínos e uma de asininos), dá bem uma ideia de quanto deverá aumentar o movimento de empresários entre os dois países nos próximos meses. Haja vistos (demorados) para tantos negócios!
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