China prepara substituição do plástico pelo bambu
O bambu, na China e em outros países da Ásia, tem "1001 utilidades" há alguns milhares de anos, condição que coloca esse capim muito versátil, industrializado em grande escala, sempre como um bom investimento. Aliás, tão bom, que muito em breve o bambu estará "bombando" no mundo inteiro, conforme avance na substituição do plástico – proposta apresentada pela China e a Inbar (Organização Internacional do Bambu e Ratã), em 2022, no Diálogo de Alto Nível sobre Desenvolvimento Global e no 2º Congresso de Bambu e Rattan. Denominada BASP – sigla em inglês para "Iniciativa do Bambu como Substituto do Plástico", ela integra a Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável, com seis áreas principais de atuação, apresentadas no site da Inbar: 1) Acelerar a implementação de medidas de apoio; 2) Melhorar os níveis de investigação científica; 3) Fomentar a exploração em campos inovadores; 4) Promover o desenvolvimento de mecanismos de mercado; 5) Intensificar a promoção; e 6) Consolidar a base de associações.
Bambu substituindo o plástico será "a volta de quem nunca deveria ter saído": depois de mais de 60 anos de derivados de petróleo progressivamente substituindo fibras naturais, com os plásticos e outros materiais invadindo – e poluindo – todos os espaços possíveis e imagináveis, finalmente o bambu volta a ser considerado a melhor alternativa econômica e ambiental para reverter situações-limite, como a do plástico em rios e oceanos, e dos muitos milhões de hectares degradados, em vários países – no Brasil, principalmente no Cerrado, devastado para produzir soja para a China. Substituir o plástico reduzirá a poluição planetária, abastecida por 368 milhões a 400 milhões de toneladas do material por ano (2019/2024).
O estudo "The world of plastic waste: A review", publicado em março de 2024, revela: "Todos os anos, cerca de 8 milhões a 10 milhões de toneladas de plástico, incluindo macroplásticos e microplásticos, vazam para o oceano e são responsáveis por 80% de toda a poluição marinha. Os resíduos plásticos matam mais de 100.000 espécies marinhas a cada ano, cobrindo todas as áreas, desde o litoral até o oceano profundo." Sim, o bambu finalmente vai "bombar" em todo o mundo, também pela substituição vantajosa de madeiras, de plantios e das extraídas de florestas, mais as árvores nativas de regiões vulneráveis, como o Semiárido brasileiro, utilizadas principalmente para geração de energia (lenha e carvão). E sua importância ambiental vai além: hoje, o bambu é um ativo com "plus" em créditos de carbono.
Mas promover o bambu como substituto do plástico é um objetivo de proporções além de nossa imaginação, porque o plástico resulta de indústria trilionária, que ocupou países e promoveu guerras durante todo o século XX – e o petróleo ainda tem 50 anos de vida útil, pelo menos. Detalhe: a China é o maior produtor (32% do total mundial) e o maior consumidor (21%) de plástico. E a China é também a maior do mundo em bambu. Com quase 8 milhões de hectares ocupados pelo super capim, mais de 10 mil empresas de processamento de bambu, produzindo anualmente 150 milhões de toneladas de materiais, em 20 províncias, destaques para Sichuan, Fujian, Zhejiang, Jiangxi e Anhui. A produção industrial de bambu na China teria atingido 415 bilhões de yuans em 2022, e a expectativa do governo é de que ultrapassará um trilhão de yuans até 2035.
Por que o Brasil não é também um dos maiores produtores de bambu e de produtos industrializados a partir desse capim fantástico, como é de cana de açúcar (outro capim fantástico)? Com recorde de mais de 700 milhões de toneladas de cana na safra 2023/2024, o Brasil responde por metade das vendas mundiais de açúcar e é o maior produtor de etanol a partir da cana, com quase 40 bilhões de litros. Os dois maiores compradores desse açúcar são Índia e China, coincidentemente os dois maiores produtores e consumidores de bambu. No caso do Brasil, não é por falta de água, terra e sol que o bambu não é (ainda) a nossa segunda cana de açúcar. Com mais de 200 espécies, o bambu no Brasil está concentrado em três biomas: Mata Atlântica (65%), Amazonas (26%) e Cerrado (9%). Esses e outros dados a respeito do bambu no Brasil constam no site da Inbar, que informa ainda ter o país se unido à entidade somente em 1º de outubro de 2017 – 20 anos depois da sua fundação –, e que o "ponto focal" da relação conosco é o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Existem mais informações a respeito do Brasil no site da Inbar. "Se estima que só no estado do Acre há cerca de 1,6 milhão de hectares de bosque nativo de bambu. Também se calcula que o bioma do Cerrado conta com 100 mil hectares de bambu, principalmente (da espécie) Guadua chacoensis", revela a entidade. "Em 2019, o Brasil importou produtos de bambu por US$ 21,6 milhões e exportou produtos de bambu por US$ 0,37 milhão", destaca o site da Inbar. Quando a Inbar foi criada, em 1997, em Beijing, pela China e mais cinco países da Ásia (Mianmar, Bangladesh, Indonésia, Nepal e Filipinas), além do Canadá, Tanzânia e Peru, certamente ninguém cogitava que, 25 anos depois, a entidade do bambu disputaria mercado com a indústria petrolífera mundial, propondo na prática eliminar um dos seus principais subprodutos – negócio de US$ 567 bilhões anuais, que deverá produzir 589 milhões de toneladas de plásticos em 2030, com impacto ambiental da ordem de US$ 7 trilhões em 2040.
Em 7 de novembro de 2023, no 1º Simpósio Internacional sobre Bambu como Substituto do Plástico, a China e a Inbar lançaram oficialmente o Plano de Ação Global do BASP 2023/2030, que pretende "aumentar efetivamente a capacidade e a eficiência da substituição do plástico por bambu, contribuindo para a redução da poluição plástica." Para isso, "a China construirá, nos próximos três anos, de cinco a dez bases de promoção de aplicações para "substituição de plástico por bambu" em áreas com abundantes recursos de bambu e uma sólida base na indústria do bambu." Esse plano de ação prevê ainda pesquisa e desenvolvimento tecnológico, formulação de padrões de produtos e construção de marca para solidificar a base de desenvolvimento local do programa, com um sistema industrial preliminar para "substituição de plástico por bambu" estabelecido até 2025, melhorando a qualidade do produto, a variedade e a escala industrial do bambu utilizado.
Existe no Brasil a Política Nacional de Incentivo ao Manejo Sustentado e ao Cultivo do Bambu, criada pela lei nº12.484 (8/09/2011), que, até onde se sabe, ainda não foi regulamentada. Entre os muitos acordos do Brasil com a China, houve o Plano Decenal de Cooperação 2012-2021, assinado no Rio de Janeiro, em 21 de junho de 2012. Nele, em seu Capítulo 1 (Ciência, Tecnologia, Inovação, e Cooperação Espacial), consta, textualmente: "promover a cooperação bilateral no campo da tecnologia de bambu." Em julho de 2014, novo acordo assinado: Plano de Ação Conjunta 2015-2021. Nele, no capítulo 12 (Área de Ciência, Tecnologia e Inovação), item 2, há nova citação ao bambu, dessa vez uma das 12 áreas prioritárias de cooperação: "tecnologia de bambu e ratã".
Objetivamente, se andou a cooperação em bambu do Brasil com a China nesses anos todos, pouco se sabe, porque foi tímida, muito aquém portanto do potencial e possibilidades dos dois países. Isso porque, segundo dizem em Brasília, o governo federal estaria impossibilitado de criar programas e destinar recursos para fomentar a cultura e industrialização do bambu, por falta de regulamentação da Lei nº12.484. A burocracia seria culpada de o bambu ainda não ter acontecido no Brasil. A conferir.
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