Briga de cachorro grande

A situação de confronto comercial entre os Estados Unidos e a China poderá afetar o Brasil, tanto de maneira positiva como negativa. Afinal de contas, em termos mundiais, os dois países respondem por mais de 40% do PIB e pouco mais de 20% do comércio...
Briga de cachorro grande

A situação de confronto comercial entre os Estados Unidos e a China poderá afetar o Brasil, tanto de maneira positiva como negativa. Afinal de contas, em termos mundiais, os dois países respondem por mais de 40% do PIB e pouco mais de 20% do comércio. Ou seja, se qualquer "abanar de rabo" de cada um deles é suficiente para destroçar várias economias pequenas, que dirá os dois brigando entre si...

O que se pode imaginar, pelo histórico dos dois países, é que os chineses levarão a melhor. Sabem negociar ganhando pelo cansaço, têm muito mais poder de fogo – divisas e mercado interno – e estão em posição de vantagem, graças à "Rota da Seda Século 21" que colocaram em funcionamento, por via férrea e marítima, e porque Trump, logo no início do seu governo, desfez o Tratado do Pacífico articulado por Obama, que "cercava" a China via Japão, Coreia do Sul e outros países. Além de tudo isso, há uma contradição insanável na situação dos EUA em relação à China – mais da metade das exportações "Made in China" são produzidas no país, mas por indústrias estrangeiras, a maioria delas norte-americanas. 

É possível arriscar até uma previsão em relação a essa crise, na lógica chinesa de risco e oportunidade: a China fará desse limão uma limonada, e a exportará para o mundo, a exemplo do que fez com a crise anterior, também causada pelos EUA, em 2008. Como relembrar é viver, registre-se que naquela crise, inicialmente financeira e depois econômica, fabricada nos EUA e depois espalhada pelo mundo, o único país que conseguiu ter ganhos – e em grande escala – foi justamente a China, maior consumidora de commodities do mundo, que viu de uma hora para outra os preços que pagava caírem pela metade, dos produtos e dos fretes marítimos.   

Aos céticos, fica a sugestão de compararem a evolução econômica e comercial dos dois países, de 2008 até agora – os números são eloquentes, sobre quem ganhou e quem perdeu no período. As iniciativas dos governos Obama e Trump, com o Tratado do Pacífico, e agora com esse surto protecionista, são provas inequívocas de quem perdeu no enfrentamento com a China. 

No caso do Brasil, há o risco de ser afetado por essa crise comercial dos dois gigantes, porque eles são também seus maiores parceiros comerciais: maiores compradores, vendedores e investidores. Qualquer movimento errado, do governo e entidades empresariais do Brasil, terá implicações negativas para importadores e/ou exportadores. É possível que o país consiga se equilibrar entre os dois contendores e saia mais ou menos como estava antes dessa briga, apenas porque, infelizmente, a nossa participação no comércio mundial é inferior a 1% do total, ou seja, por não sermos compradores e vendedores suficientemente importantes. 

Em contrapartida, se soubermos encontrar as oportunidades que surgirão nessa crise, talvez seja possível até o Brasil alterar a sua inaceitável condição, com os dois países, de exportador de commodities e importador de manufaturados.

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Quinta, 12 Dezembro 2024

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