Segunda etapa de pesquisa estima que Rio Grande do Sul tenha mais de 15 mil infectados por Covid-19
Os números da segunda etapa da pesquisa por amostragem para estimar o percentual da população do Rio Grande do Sul infectada pelo novo coronavírus estimam que o Estado tenha 15.066 pessoas com anticorpos – ou seja, que já tiveram contato com a Covid-19 –, equivalente a um infectado a cada 769 habitantes, taxa de 0,13%. Dos 4,5 mil testes aplicados entre os dias 25 e 27 de abril, seis testaram positivo. Na primeira fase da pesquisa, entre 11 e 13 de abril, dois casos deram positivo para a Covid-19, o que representa 0,05%. A estimativa, portanto, era de que existissem 5.650 pessoas contaminadas pelo coronavírus no Estado – um caso a cada 2 mil habitantes (veja o estudo completo ao final desta reportagem).
Os seis casos positivos foram identificados em Porto Alegre, Pelotas, Santa Maria e Canoas. As pessoas que dividem residência com os seis casos positivos também foram testadas – 12 familiares, dos quais nove também tiveram resultado positivo para a Covid-19. A confirmação da transmissão entre familiares ou residentes de um mesmo lar confirma que o teste funciona. "Há uma alta transmissibilidade no ambiente familiar. O baixo número de resultados positivos se dá porque a infecção ainda está em um estágio inicial no Estado", explica Pedro Rodrigues Curi Hallal, reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), instituição que coordena o projeto encomendado pelo Estado.
As nove cidades onde foram realizadas as coletas – Caxias do Sul, Canoas, Ijuí, Passo Fundo, Pelotas, Porto Alegre, Santa Cruz do Sul, Santa Maria e Uruguaiana- representam 31% da população gaúcha, ou seja, 11,3 milhões de habitantes. O estudo reflete uma realidade do avanço da doença de duas semanas atrás. Com os resultados da segunda etapa, é possível estimar que, para cada 1 milhão de habitantes do Rio Grande do Sul, existam 1,3 mil infectados, dos quais somente 108 foram notificados. Para cada notificado, existem até 12 não notificados (há uma margem de erro que varia entre 5 a 26 não notificados).
Distanciamento social
Responsável por coordenar o trabalho da epidemiologia da Covid-19, o reitor da UFPel abordou também os aspectos que evidenciam uma mudança no comportamento dos gaúchos para se prevenirem contra o contágio. Segundo a pesquisa, houve um aumento significativo das pessoas que passaram a sair de casa diariamente: eram 20,6% dos pesquisados na primeira consulta e, agora, esse percentual saltou para 28,3%. O contingente de pessoas que declaram sair apenas para as necessidades essenciais caiu de 58,3% para 53,4% dos entrevistados. Recuo semelhante ocorreu neste intervalo de duas semanas entre aqueles que disseram cumprir o isolamento total: eram 21,1% e, agora, são 18,3%.
A pesquisa trouxe a primeira estimativa de letalidade. Se o cálculo for baseado nos casos notificados – 49 óbitos e 1.350 casos confirmados no dia 28 de abril –, a letalidade estimada seria de 3,6%. Isso significa que, a cada cem pessoas que contraírem o vírus, entre três e quatro iriam a óbito. Se, porém, o cálculo levar em consideração o total de casos estimado pela pesquisa, de 15.066, e o número de óbitos confirmados, de 49 casos, a estimativa de letalidade fica em 0,33%. Ou seja, a cada mil pessoas que contraírem o coronavírus, três iriam a óbito.
O reitor ressalta, no entanto, que a taxa de letalidade varia muito de acordo com a faixa etária, sendo significativamente mais alta entre idosos. "Mesmo com a baixa letalidade, o número é muito relevante na população. De maneira nenhuma significa que pode ser interpretada como um sinal verde para o retorno da vida como era antes do coronavírus. Isso vai demorar muito tempo para acontecer", destacou Hallal.
Pesquisa de campo
O Centro de Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) medirá o nível de imunização da população brasileira ao coronavírus, para identificar de que forma o vírus está se propagando pelo país. A pesquisa tem o apoio do Ministério da Saúde, que disponibilizará testes rápidos de coronavírus para a instituição, além de apoio para contratação de uma empresa de pesquisa que fará as entrevistas. De acordo com o órgão, com o resultado do estudo será possível criar políticas públicas mais eficientes e baseadas em critérios científicos sobre o comportamento do coronavírus no território brasileiro.
O Ministério da Saúde enviou 20 mil kits para viabilizar a aplicação dos testes e já programa replicar o mesmo estudo no restante do país. A próxima etapa está prevista para ocorrer entre os dias 9 e 11 de maio. Além da UFPel, a pesquisa mobiliza uma rede de 12 universidades federais e privadas: Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Universidade Federal do Pampa (Unipampa/Uruguaiana), Universidade de Caxias do Sul (UCS), Imed Passo Fundo, Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS/Passo Fundo), Universidade de Passo Fundo (UPF) e Universidade La Salle (Unilasalle-Canoas). O estudo tem um custo estimado em R$ 1,5 milhão e tem o apoio da Unimed Porto Alegre, do Instituto Cultural Floresta, também da capital gaúcha, e do Instituto Serrapilheira, do Rio de Janeiro.
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