Preconceito: mais letal que o coronavírus?
Pesquisando sobre o surto atual do vírus 2019-nCoV, descobre-se várias outras epidemias, a mais impressionante delas a dos Estados Unidos em 1918, conhecida como “gripe espanhola” (cientificamente A-H1N1) e reconhecida como a mais letal das pandemias – teria causado mais de 50 milhões de mortes no mundo. No Brasil, o Instituto Butantã estima 35 mil mortes, entre 1918 e 1919, inclusive a de Rodrigues Alves, recém-eleito presidente da República.
Algumas epidemias surgiram na Ásia nesse século, em especial na China, como a SARS, em 2002, e as gripes aviária (H5N1) e “suína” (H1N1), com milhares de pessoas contaminadas e centenas de mortes. Outras continuam na África, como a meningite – a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima terem ocorrido mais de um milhão de casos e 100 mil mortes no mundo nos últimos 20 anos; a febre amarela, com 200 mil casos anuais e mais de 30 mil mortes – parte delas por insuficiência de vacinas; e a malária, para a qual ainda não há vacina, apesar dos espantosos 228 milhões de casos em 2018 e 405 mil mortes (585 mil em 2010), 90% delas na África.
Até agora a Índia passou ao largo dessas epidemias, apesar de seus 1 bilhão e 350 milhões de habitantes, dos quais 22% abaixo da linha de pobreza, parcela muito maior do que a de pobres (3%) na China, de acordo com o World Factbook, da CIA, de 2019. As precárias condições nutricionais da população e de saneamento na Índia são responsáveis pela elevada incidência de doenças como a malária – 200 mil mortes anuais, de acordo com estudo publicado na revista The Lancet. Por isso, não deixa de ser curioso: por que essas epidemias de vírus, típicas de cidades superpopulosas e com más condições de higiene, surgiram na China e não na Índia?
Já existem quase 500 vítimas fatais de infecção pelo coronavírus na China, de um total superior a 20 mil contaminados. Talvez esses números aumentem rapidamente. Ou não, pois espera-se que todas as medidas tomadas até agora façam efeito e a situação se estabilize. Nesse caso, o surto do coronavírus não terá passado de um grande susto mundial, semelhante às epidemias anteriores.
A diferença dessa vez será o impacto negativo sobre a população chinesa no mundo, resultante da intensa propaganda desonesta, principalmente via redes sociais, nas quais “fake news” em proporções viróticas alimentam e aumentam o preconceito histórico contra asiáticos (“amarelos”), em especial da China. Não se toca nas questões estruturais: as megalópoles são insalubres e precisam ser “esvaziadas”; os sistemas públicos de saúde precisam ser fortalecidos; faltam recursos para produção de vacina para a febre amarela; e finalmente viabilizarem recursos para as pesquisas visando produzir vacinas contra a malária e outras doenças viróticas e bacterianas endêmicas na África, Ásia e América Latina.
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