Sul tem 16 pesquisadores entre aqueles que mais influenciam políticas públicas‌ no mundo

Universidade Federal de Pelotas lidera a lista na região com seis cientistas
"A UFPel conduz, desde 1982, os estudos mais relevantes sobre saúde no Brasil", conta Hallal, que está entre os cinco pesquisadores mais influentes em tomadas de decisão juntamente com outros colegas da universidade

Cada vez mais, cientistas são cobrados para que suas pesquisas tenham impacto direto na sociedade. Agora, esse desejo já pode ser medido: 107 pesquisadores brasileiros estão entre os mais citados em documentos que embasam tomadas de decisão mundo afora. Os dados são de um relatório inédito fruto da parceria entre a Bori e a Overton, maior plataforma internacional dedicada a mapear a interface entre ciência e políticas públicas, ao qual o Portal AMANHÃ teve acesso.

Para chegar à lista, Bori e Overton identificaram pesquisadoras e pesquisadores brasileiros mencionados em documentos estratégicos, relatórios técnicos e pareceres usados por governos, organismos internacionais e organizações da sociedade civil — cada um com pelo menos 150 citações. Assim, foram mapeados mais de uma centena de cientistas. O levantamento revela que a produção desses pesquisadores embasou mais de 33,5 mil documentos de políticas públicas publicados desde 2019. Um quarto dos nomes (22) é da USP.

No recorte exclusivo feito por AMANHÃ, 16 pesquisadores são de universidades ou instituições sediadas no Paraná, em Santa Catarina ou no Rio Grande do Sul (veja a tabela ao final desta reportagem). Do total, 14 têm origem em solo gaúcho, sendo que da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) são seis, incluindo o mais citado. E entre os cinco pesquisadores mais influentes em tomadas de decisão, três são da faculdade pelotense. Os cinco primeiros são: César Victora (UFPel), Carlos Monteiro (USP), Aluísio Barros (UFPel), Paulo Saldiva (USP) e Pedro Hallal (UFPel). Todos eles atuam em saúde ou na intersecção entre a área médica e ambiente e somam mais de 5.500 citações em documentos ligados a decisões públicas.

"A UFPel conduz, desde 1982, os estudos mais relevantes sobre saúde no Brasil. A existência desses estudos, chamados Coortes de Nascimentos, permite que os pesquisadores e pesquisadoras da instituição produzam ciência da mais alta qualidade, que acaba influenciando políticas de saúde em nível local, estadual, nacional e internacional", explicou Hallal ao Portal AMANHÃ. Ele, que atuou como Reitor da UFPel entre 2017 e 2020, fez questão de distinguir quem iniciou esses experimentos. "Importante reconhecer o pioneirismo dos professores Fernando Barros e Cesar Victora que iniciaram tais estudos. É por causa deles que hoje eu e tantos outros pesquisadores podemos nos destacar", orgulha-se. Hallal é reconhecido por liderar inquéritos nacionais de prevalência de Covid-19 e por sua atuação em políticas de promoção da atividade física.

Já Victora tem 231 trabalhos acadêmicos mencionados em 3.109 documentos de políticas públicas, com foco sobretudo em aleitamento materno. Seus estudos embasaram a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança no Brasil e fundamentaram relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre desenvolvimento infantil, que, por sua vez, impactou quase duas centenas de outros documentos em 21 países. Barros contribuiu para políticas de saúde materno-infantil e avaliação de programas sociais.

"Compreender quais cientistas influenciam as políticas — e quem está faltando nessa conversa — é essencial para fortalecer a tomada de decisão baseada em evidências", diz Euan Adie, fundador e diretor da Overton. Para Ana Paula Morales, cofundadora e diretora da Bori, a incidência do conhecimento científico em tomadas de decisão passa pela comunicação do que é feito na academia. "Quando a evidência é comunicada de forma clara e acessível, molda o entendimento público e capacita a sociedade a exigir decisões embasadas no conhecimento. Tornar a ciência visível não é apenas uma questão de reconhecimento — é expandir seu alcance e sua capacidade de transformar o cotidiano", argumenta. Sabine Righetti, cofundadora da Bori e pesquisadora do Labjor-Unicamp, concorda. Para ela, o relatório Bori-Overton mostra que a ciência não é periférica para o poder público, mas um dos seus instrumentos de governança. "Reconhecer essa conexão fortalece a democracia, pois a formulação de políticas baseada em evidências é a expressão mais concreta da razão pública", defende. 

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Sexta, 07 Novembro 2025

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