Ipea aponta que pessoas trans enfrentam desigualdades para acessar empregos formais

Estudo traz informações sobre renda, perfil ocupacional e acesso a serviços públicos
Apenas um quarto das pessoas trans têm emprego formal e com rendimentos 32% menores

Uma nota técnica recém-publicada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) expõe a baixa representatividade e as disparidades enfrentadas pela população trans no mercado formal brasileiro. Utilizando uma metodologia pioneira para identificar pessoas trans em registros oficiais como o CPF e a Rais, o estudo apresenta dados sobre renda, ocupação e vínculos públicos, e integra a 80ª edição do Boletim Mercado de Trabalho.

O estudo foi elaborado pelos técnicos de planejamento e pesquisa Filipe Matheus Silva Cavalcanti, Felipe Vella Pateo e Alberto Luis Araújo Silva Filho, da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (Disoc/Ipea).  Segundo os autores, a pesquisa é um avanço importante para a formulação de políticas públicas. "A ausência de dados oficiais sobre identidade de gênero é um obstáculo central para compreender as desigualdades enfrentadas pela população trans e elaborar estratégias efetivas de inclusão", afirmam. A metodologia  permitiu identificar 38,7 mil pessoas trans com idade entre 14 e 64 anos a partir de informações do Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) da Receita Federal. Desse total, 47,6% realizaram alteração de nome e gênero entre 2023 e 2025, e 45,8% possuíam nome social registrado. 

Os pesquisadores apontam que a maior parte das pessoas trans identificadas está concentrada na faixa etária de 18 e 30 anos (59,8%), refletindo, em parte, mudanças culturais e maior reconhecimento social das identidades de gênero entre as gerações mais jovens. Geograficamente, a região Sudeste concentra mais da metade dos registros (51,1%), seguida do Sul (15,9%), enquanto as regiões Norte e Nordeste apresentam menor representatividade. O Ipea identificou que apenas 25% das pessoas trans estavam empregadas formalmente em 2023 — uma taxa 6,8 pontos percentuais inferior à da população geral. As desigualdades são ainda mais expressivas entre mulheres trans, cuja taxa de participação é de 20,7%, frente a 31,1% entre homens trans.

A pesquisa também aponta diferenças regionais significativas. O Sul e o Sudeste apresentam índices mais elevados, embora ainda inferiores aos da população total. "Mesmo nas regiões com maior dinamismo econômico, as barreiras à contratação e à permanência de pessoas trans permanecem expressivas", observam os autores. As pessoas trans inseridas no assalariamento formal recebem, em média, R$ 2.707 por mês, valor 32% inferior à média nacional (R$ 3.987).  Mais da metade das pessoas trans empregadas formalmente está concentrada no comércio, atividades administrativas, alojamento e alimentação,  enquanto a presença é mínima em cargos de direção, técnicos ou de maior qualificação.


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Quinta, 23 Outubro 2025

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