2026, o Ano da Cultura e Turismo Brasil-China

Os dois países têm a obrigação de investir de verdade na divulgação recíproca da cultura, economia criativa e atrações turísticas no próximo ano
Um dos mais significativos casos de sucesso de empresa na China é o da CBMM, que desenvolveu um invejável trabalho de relacionamento técnico, cultural e comercial

As relações entre o Brasil e a China prometem ser muito mais interessantes em 2026, com atividades e produtos culturais acontecendo lá e cá, e intensificação do fluxo turístico recíproco. Essas são as promessas oficiais do Brasil para 2026, que começou como "Ano da Cultura Brasil-China", em anúncio do presidente da República, em 20 de novembro de 2024, e aumentou o alcance para "Ano da Cultura e Turismo Brasil-China" em 4 de julho deste ano, em reunião do ministro do Turismo do Brasil, Celso Sabino, com o conselheiro Zhang Zhiyun, da Seção Cultural da Embaixada da China.

Confesso ainda estar bastante cético em relação ao que realmente acontecerá nas áreas cultural e turística nos dois países em 2026, a partir do que conheço do Brasil na relação com a China – a começar da postura da Embratur, nos últimos 20 anos, sempre considerando a China "fora do radar" da promoção turística brasileira. Necessitamos, de fato, incrementar muito o turismo chinês no Brasil (o movimento daqui para lá aparenta ser bem maior do que de lá para cá), mas, infelizmente, o fator limitante principal para chineses(as) virem passear em terras e águas tupiniquins é a insegurança. Essa é a questão decisiva, e não a pouca divulgação das atrações turísticas do Brasil. Querem conhecer o Brasil, mas têm medo de vir para cá por causa da violência cotidiana. A mídia chinesa volta e meia divulga alguma atrocidade ocorrida no Brasil, e são comuns relatos de assaltos sofridos por integrantes de comitivas da China em grandes cidades brasileiras.

Quanto às atividades culturais, tomara que realmente aconteçam na escala que merecem os dois gigantescos países, ao invés de se resumirem às tradicionais apresentações artísticas em suas capitais, e em São Paulo e no Rio de Janeiro. Após 50 anos de relações diplomáticas, quase US$ 190 bilhões de comércio anual e mais de US$ 70 bilhões de investimentos, Brasil e China têm a obrigação de investir de verdade na divulgação recíproca da cultura, economia criativa e atrações turísticas em 2026 realizando eventos em todas as capitais e em pelo menos mais uma cidade grande do interior dos estados e províncias dos dois países.

Levantamento realizado em 7 de abril deste ano no site específico do MinC dá a real dimensão da coisa: de 134.540 projetos inscritos pela Rouanet até aquela data, apenas 79 referiam-se à China, com um total de R$ 76,3 milhões – dos quais foram captados R$ 17,8 milhões. Somente um projeto conseguiu captar integralmente; 13 parcialmente; e 65 não conseguiram empresas que se dispusessem a direcionar para eles os 4% do imposto de renda devido. Segundo o que consegui apurar com quem é da área, a omissão das empresas resulta de uma somatória de desinteresses: dos executivos pela área cultural; e da contabilidade em efetivar o direcionamento dos recursos para o(s) projeto(s) a ser(em) patrocinado(s) – em alguns casos, por pura preguiça de estudar a legislação (Lei nº 14.903, de 27/06/204, que "estabelece o marco regulatório do fomento à cultura", e a Instrução Normativa em vigor – no caso, a de nº 23, de 5/02/2025); em outros, porque é menos trabalhoso pagar o IRPJ total e pronto; e, até – pasmem –, por receio de "entrar no radar da Receita Federal".

Essa situação é surreal, porque as empresas não gastam um tostão com os patrocínios culturais, ao contrário, elas ganham propaganda institucional nos livros, documentários, eventos etc., etc. Empresas brasileiras que faturam bilhões exportando para a China não costumam patrocinar projetos culturais relacionados com seu maior cliente. Direcionam recursos somente para atividades culturais no Brasil, revelando enorme descompasso na estratégia de relacionamento com a China. Um dos mais significativos casos de sucesso de empresa na China é o da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), produtora e exportadora de nióbio, que foi para lá a primeira vez em 1978 e desenvolveu um invejável trabalho de relacionamento técnico, cultural e comercial. Hoje, empresas brasileiras se beneficiam indiretamente do investimento cultural realizado pela CBMM, mas ainda não seguem seu exemplo.

As populações dos dois países poderiam conhecer muito mais a fantástica diversidade cultural e da economia criativa da China e do Brasil, se nossas empresas de petróleo e outros minerais, celulose, produção e exportação de grãos e carnes, mais as indústrias brasileiras instaladas lá, e as empresas chinesas instaladas aqui, fizessem a sua parte, tão simples e sem custo, de destinar até 4% do IRPJ devido para projetos culturais aprovados pela Lei Rouanet. Objetivamente, ainda há tempo de virarmos esse jogo. Todos os projetos aprovados já têm as contas abertas no Banco do Brasil. O prazo para a destinação dos recursos vai até o final de dezembro. As empresas podem consultar os projetos aprovados no site do Versalic e entrar em contato com os realizadores dos que lhes interessarem mais. Ou atenderem as demandas que recebem, decidirem quais vão apoiar e efetivarem o(s) patrocínio(s).

Muito do que acontecerá no "Ano da Cultura e Turismo Brasil-China" depende da efetivação desses patrocínios agora em novembro e dezembro, porque o que for feito para 2026 terá de acontecer no primeiro semestre, em função das restrições legais do período eleitoral de julho até novembro.

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Terça, 28 Outubro 2025

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