Sun Tzu, Confúcio e as estratégias e táticas chinesas

Ofensiva é a resposta da China à reação comercial, política e militar dos EUA e de parte da União Europeia
Talvez agora o Brasil ingresse na Iniciativa Cinturão e Rota da China com a perspectiva da construção de mais 30 mil quilômetros de ferrovias

As reflexões do general Sun Tzu e do filósofo Confúcio sobre estratégias e táticas militares e políticas, publicadas há mais de 2.500 anos, seguem válidas até hoje, e são aplicadas também nas atividades econômicas e comerciais da China no mundo. O que pode ser traduzido, de maneira bem simples, com o dito popular do interior: "Enquanto vamos com o milho, eles vêm com o fubá". Um fubá e tanto, nesse início de 2023: substituição do dólar pelo reminbi nas transações comerciais da China com os países seus parceiros comerciais; aumento da pressão para garantir Taiwan enquanto território chinês (e, por tabela, o controle da produção dos semicondutores); a consolidação até 2050 do porto de livre comércio de Hainan; a construção da passagem pela Nicarágua como alternativa ao canal do Panamá; o controle acionário sobre "n" portos marítimos no mundo; bases militares em pontos estratégicos para o tráfego marítimo; e a aceleração da "Rota da Seda Século 21" para alcançar a conectividade mundial pretendida.

Essa ofensiva estratégica é a resposta da China à reação comercial, política e militar dos Estados Unidos (EUA) e de parte da União Europeia, ao crescimento da importância econômica do país, via avanços científicos, tecnológicos e em inovação, expressos na evolução dos produtos que exporta e no seu domínio crescente das relações comerciais mundiais. Outro fator que preocupa é o aumento do poder aquisitivo da população chinesa, que impacta tanto o padrão de vida da classe média desses países, na disputa dos produtos do mercado de luxo, como o do restante das populações, porque as matérias-primas demandadas pelos produtos da alta tecnologia são suficientes para abastecer apenas pequena parte do consumo mundial. Nessa trama intrincada entram aviões da Airbus – e não os da Boeing, para agonia dos EUA –, e a disputa pelo bilionário mercado de créditos de carbono, no qual a China deverá ser grande compradora e o Brasil um possível grande fornecedor.

A visita oficial brasileira à China ocorre nesse contexto, e logo após a posse, na presidência do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, o "Banco do Brics"), da ex-presidente Dilma Roussef, novidade que espera-se proporcione recursos para obras de infraestrutura no Brasil que resultem em alteração significativa da matriz de transportes e do custo e acesso a financiamento de longo prazo – fatores limitantes responsáveis pela baixa competitividade internacional do país, de acordo com estudos publicados desde 2010 pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Coincide a visita oficial com a novidade que São Paulo receberá carga aérea de eletrônicos de Shenzen, linha direta duas vezes por semana – o primeiro voo, início de abril, com 100 toneladas de carga – e com a liberação da exportação de carne bovina, após o embargo sanitário ocorrido no final de fevereiro devido aos casos atípicos de "vaca louca".

Ainda não se sabe qual é a estratégia brasileira para a relação com a China nos próximos anos, às vésperas dos 50 anos do estabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países. O que se sabe é que não há relação "ganha-ganha" entre os dois países, em que pese os setores da mineração e do agronegócio estarem satisfeitos, assim como as empresas que importam todo tipo de produtos. Há um consenso que precisamos avançar na relação com a China, que é necessário o Brasil ter estratégias e táticas para alterar significativamente a balança comercial em busca de equilíbrio entre produtos primários e com tecnologia, para obtermos desenvolvimento econômico, maior intercâmbio (cultural, educacional, esportivo, e em ciência, tecnologia e inovação) e maior investimento em infraestrutura.

Talvez agora o Brasil ingresse na Iniciativa Cinturão e Rota da China – que completa uma década de atividade em 2023 –, com a perspectiva da construção de mais 30 mil quilômetros de ferrovias, ampliação e melhoria do modal fluvial e da malha aérea regional e de cargas. Com 60 mil quilômetros de ferrovias, o Brasil continuará bem distante das quantidades que possuem os EUA e a China, mas obterá mudança significativa de patamar na redução de custos e consequente salto de competitividade internacional dos produtos industriais, agropecuários, minerais e florestais. Acompanho a trajetória chinesa desde 1984, cinco anos depois dos EUA terem acabado com o bloqueio econômico que exerceram contra a China por 30 anos. Naquela época, pouca gente no Brasil se interessava em conhecer o país, em estudar o que estava acontecendo lá. Wladimir Pomar, meu pai, foi pioneiro, com "O Enigma Chinês", livro publicado em 1987.

Hoje, felizmente, há mais interesse no Brasil em estudar a China, muita gente pesquisando, acompanhando, e não apenas por interesse econômico ou comercial, mas realmente para tentar entender o que ocorre no "Planeta China", como conseguiram avançar tanto e em tão pouco tempo. Graças a essa "massa crítica" de estudiosos e estudiosas sobre a China, formada nos últimos 20 anos no Brasil, temos hoje condições de negociar alterações importantes na relação estratégica com o país que é o nosso maior parceiro comercial há mais de dez anos. A conferir.

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Comentários: 1

ALMANAKUT em Quarta, 19 Abril 2023 19:18

Chegará o dia em que os XINGs se arrependerão de ter pisado no Brasil.

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Quinta, 21 Novembro 2024

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