Le Pen pode ser um risco muito maior do que o mercado prevê
Ao contrário de 2016, ano que começou com investidores preocupados com possíveis apertos nas condições monetárias pelos principais bancos centrais, 2017 tem suas maiores preocupações em torno de eventos geopolíticos. A razão dessa mudança vem por conta das surpresas ocorridas no ano passado, quando o improvável se tornou o mais provável, com vitórias de Donald Trump e o Brexit, por exemplo. Uma sinalização mais clara dos bancos centrais e suas trajetórias, além do caso especial do Fed que terá na condução da política fiscal americana um dos principais pontos para definir seu ritmo de elevação de juros é outro ponto de atenção. Essas são algumas das conclusões do relatório da XP Investimentos que analisa o a economia global em 2017. “Em linhas gerais, temos uma visão mais otimista do que o mercado para o cenário internacional, pois acreditamos que boa parte dos riscos que são vistos por investidores com probabilidades altas não irão se concretizar. No entanto, reforçamos que a vitória de Le Pen (foto) na França representa um risco muito maior do que o atualmente precificado no mercado”, alertam Celson Plácido e Gustavo Cruz em relatório. Acompanhe os principais trechos a seguir.
Estados Unidos
Um dos grandes questionamentos de 2017 será em torno de Donald Trump. O novo presidente dos Estados Unidos voltou a discursar no tom de sua campanha e colocou figuras polêmicas em governo. Paira a dúvida se as instituições americanas se sobressairão à figura do novo presidente, amenizando medidas mais “extremas”. Temos uma visão otimista de que ao menos neste ano o governo terá um impacto menos negativo do que o previsto pelo mercado. Os nomes escolhidos sinalizam um novo rumo para a economia, com a redução de impostos, menor regulamentação, aumento nos gastos com infraestrutura e militares, e uma abordagem mais populista no comércio exterior, e nas questões da imigração e da indústria norte-americana durante os próximos quatro anos. Resta saber como isso será conversado com o Congresso e se surgirão eventuais problemas de conflitos de interesse, privado e público, entre alguns dos membros da nova equipe.
O último ano do Fed sob o comando de Janet Yellen deve ser marcado por uma aceleração no ritmo de aumento da taxa de juros, atualmente em 0,75%, em um banco central agora guiado não apenas por dados econômicos, mas também monitorando o governo Trump e sua gestão da parte fiscal. A tendência é que o Fed acelere para algo entre duas e três elevações de juros em 2017, sempre de maneira ponderada, monitorando as consequências. Por fim, um grande tema do novo governo norte-americano será a questão geopolítica, algo que foi criticado pelo novo presidente durante sua campanha, ao mencionar que os Estados Unidos eram a “polícia” do mundo e ninguém os pagava nada em retorno.
China
Dois pontos merecem atenção em torno em 2017. O primeiro é o 19º Congresso do Partido Comunista, que deve ocorrer no último trimestre do ano. O segundo vem do posicionamento geopolítico chinês após a vitória de Trump. Começando pelo fator interno, o evento político desperta a atenção de investidores por conta de um embate interno entre duas correntes, a primeira atualmente comandando a orientação econômica, defende uma desaceleração econômica lenta e gradual, a segunda compreende que a o país deveria desacelerar de forma mais rápida, pois as medidas que estão sendo implementadas para garantir o ritmo atual comprometeriam a economia no médio e longo prazos. O desfecho é importante para a economia mundial, pois todas as vezes quando surgem rumores de uma possível reorientação do ritmo de desaceleração chinesa os mercados sofrem. Pensando em Brasil, seria um dos principais canais externos que poderiam impactar negativamente a economia do país. Assim resta saber se o Congresso será marcado pela ampliação de poder de Xi Jiping, que deve continuar como secretário geral até 2022, e se ocorrerá alguma mudança dentre os responsáveis pela condução da política econômica.
O fator externo de China já foi sentido no Brasil, com o aumento da participação de companhias chinesas no controle de empresas brasileiras no final de 2016. Com Trump deixando claro que não trabalhará pelos acordos comerciais que vinham sendo feitos, a China deve procurar preencher este espaço, avançando particularmente sobre a Ásia e a América Latina, regiões das quais já possui uma grande influência.
Europa
O Banco Central Europeu já anunciou em dezembro que seu programa de estímulos monetários será postergado para dezembro de 2017, com uma magnitude menor, passando de 80 bilhões de euros mensais para 60 bilhões de euros. Pensando na relação com o Brasil, o caso é favorável, ainda resultará em um ano de maior liquidez, mas vale destacar que esse cenário chega cada vez mais próximo de seu desfecho, com a inflação da região que beirava o campo deflacionário no começo de 2016, já tendo atingido 0,6% no final do ano, ainda distante da meta de 2,0%, mas em linha com o projetado pelo BCE.
O começo de 2017 contará com Theresa May, primeira-ministra do Reino Unido, ativando o artigo 50 do Tratado de Lisboa, que prevê um prazo de dois anos de transição para sair da União Europeia, algo inédito. Com isso deve ser iniciada uma longa negociação entre as duas partes, na qual o bloco europeu não pode nem ser tão duro, pois isso afetaria negativamente a economia da região, nem tão permissivo, pois daria incentivos a outros membros do bloco a tomarem a mesma decisão.
Na França, com a baixa popularidade do atual presidente, François Hollande, as eleições do dia 23 de abril tem desfecho mais incerto. A candidata Marine Le Pen representa um risco grande para o bloco europeu por ter feito campanha pelo Brexit e defender abertamente uma consulta nos mesmos moldes para a população francesa. Do outro lado, François Fillon surge como favorito, com um discurso de austeridade e extinção de cargos públicos. De todos os temas do relatório, acreditamos que esse seja o que vem ganhando menos destaque no cenário dos investidores, e que tem grande potencial de turbulência nos mercados. Uma eventual vitória de Le Pen seria acompanhada de uma grande incerteza em torno da sobrevivência do bloco europeu, por conta de sua defesa pessoal por um Referendo na França, para a população decidir se permanece na Zona do Euro. Diferentemente do Brexit, no qual o Reino Unido faz parte da União Europeia, a França é um país membro da Zona do Euro, uma eventual ruptura poderia colocar em risco a continuidade do euro.
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