A internacionalização como necessidade

Quando jovem, lá pelos 26 anos, fui abordado por um conhecido headhunter de São Paulo que me acenava com a possibilidade de vir a ser diretor de exportação num grande conglomerado industrial brasileiro. O headhunter era Frederico, da Eigenheer Associ...
A internacionalização como necessidade

Quando jovem, lá pelos 26 anos, fui abordado por um conhecido headhunter de São Paulo que me acenava com a possibilidade de vir a ser diretor de exportação num grande conglomerado industrial brasileiro. O headhunter era Frederico, da Eigenheer Associados. A empresa era a Companhia Nitro Química Brasileira, pertencente ao grupo Votorantim. 

A princípio, a proposta não me pareceu lá muito tentadora. Trabalharia em São Miguel Paulista, nos confins da Zona Leste de São Paulo, e nossos produtos estavam longe de pertencer à vanguarda tecnológica. Mas gostei de Ricardo Ermírio, meu contemporâneo, e vi naquele mastodonte de milhares de empregados uma chance de ajudar o grupo como um todo. 

Os primeiros passos não foram fáceis, ainda que prazerosos. Eu já vinha de três anos como gerente de exportação de empresas menores e trazia uma bagagem de mundo que datava de mais de 10 anos de andanças. Ao assumir minhas funções definitivas, ao cabo de dois anos, coloquei como desafio a internacionalização da organização.

O principal desafio residia em vender internamente alguns conceitos, tais como: a) o Brasil era parte de um contexto global, por mais introspectiva que fosse sua economia; b) ser ineficiente aqui, seria decretar nossa sentença de morte; c) tínhamos que melhorar nossa qualidade e gestão; d) era importante ver o mundo como estuário de oportunidades, e não de ameaças. 

Ademais de tudo isso, impunha-se vender aos acionistas – não a todos – a ideia de que exportação, joint ventures e investimento direto lá fora, não eram crimes de lesa-pátria e que, assim fazendo, continuávamos acreditando no Brasil do mesmo jeito. Que desfraldar a bandeira brasileira ia ao encontro da "brasilidade" alardeada na TV por Dr. Antonio Ermírio, nosso ícone. 

Certo é que avançamos. Levei nossos acionistas para conhecer o que jamais tinha lhes passado pela cabeça, sequer na leitura de ficção: clientes indonésios, coreanos, japoneses a chineses, à época gente de Taiwan e Hong Kong. Depois eles foram tomando gosto pelo mundo. Unificamos algumas operações, e não fora o açodamento, essa construção teria sido mais sólida. 

Penso em tudo isso quando vejo o Brasil de hoje. Conversando com meu principal cliente no Nordeste essa semana, dizia-lhes que depois de certa escala, impõe-se o realismo desapaixonado. Ora, invistam em Portugal, nos Estados Unidos ou no Reino Unido, onde logo ficará barato capitalizar algumas oportunidades. Mas não hipotequem seu futuro ao Brasil.

Mais do que nunca, vê-se que somos uma nação estruturalmente encalacrada. Reféns de rentistas e de políticos que teimam em ver o serviço público como uma carreira, em que as posições se encadeiam como promoções, estamos em maus lençóis. Fracos sob o ponto de vista geopolítico, insignificantes globalmente, sem poupança interna e sub-qualificados, é real o risco de quebrarmos. 

Assim, hoje como ontem, concito meus poucos leitores a abrir janelas para o mundo. A esperança deve prevalecer, mas a toxicidade e a insalubridade dos ares que respiramos sufocam nossas vidas. Façamos por onde mapear o mundo com profissionalismo, e não como diletantismo para os momentos de desalento leve. Uma hora eles podem ficar pesados e certas coisas devem ser feitas com planejamento e audácia. 

Audácia de última hora chama-se medo. E este será sempre mau conselheiro.  

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Quinta, 21 Novembro 2024

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