A armadilha

A maioria das pessoas que eu conheço, que sonha em ver a economia nas mãos do Estado, tem vivido dias de glória nas últimas semanas. Especialmente quando confrontadas com o quadro latino-americano onde os negocistas ditos progressistas – uma patranha...
A armadilha

A maioria das pessoas que eu conheço, que sonha em ver a economia nas mãos do Estado, tem vivido dias de glória nas últimas semanas. Especialmente quando confrontadas com o quadro latino-americano onde os negocistas ditos progressistas – uma patranha inqualificável, um eufemismo para estatistas – estão babando para distribuir sinecuras, indultar criminosos de colarinho branco e tentar ao máximo socializar o que eles acham que são as benesses do poder. Se o sistema quebrar mais adiante, o que importa? Importa o hoje, o aqui e o agora. Importa o emprego de Juan, Manuela e Raimundo. Importa é a articulação de uma máquina de compra de votos. Mais adiante, bem, mais adiante o mundo vai mesmo explodir. E como tal, todos serão forçados a fazer um acordo. Daqui até lá, o caudilho simiesco já terá casado as filhas e poderá viver em Coconut Grove à custa de mercadejar esperanças e mentiras. 

Para eles, nenhuma notícia é tão maravilhosa quanto o que chamam de a derrocada chilena. O Chile de Sebastián Piñera (na foto, ao centro) é a cereja do bolo. Pouco importa que o Chile só tenha tido governos de esquerda nos últimos 30 anos, salvo por um período de cinco de Sebastián Piñera, que recentemente voltou à Presidência. A razão? O Chile representa uma espécie de símbolo cuja virtual saída da pobreza incomodava sobremodo a turma que carpe as "veias abertas" de que falava Galeano. Que a Bolívia, o Equador e a Venezuela chafurdem, bem, isso está na ordem do dia. A Argentina é um caso à parte. Importante para os ditos cujos é que ela vá mal, mesmo em mãos peronistas, pois, indiretamente, isso significa o fracasso de uma elite branca de olhos azuis – aquela que, em última instância, mora na Recoleta. Interessante, para não dizer trágico, é que para onde aponta a torcida explícita do Palácio do Planalto, tudo dá errado. Eis um toque de Midas invertido em operação.  

O que a turma dita engajada não permite que se veja, contudo, jaz numa camada mais abaixo. E merece, sim, reflexão. Isso porque Hong Kong, Líbano, França, Reino Unido e Espanha também vivem seus dilemas de representatividade política. E sem dar tanta margem à vendeta nem ao gangsterismo puro e simples, o que se vê nessas latitudes tem sim a ver com um mal-estar civilizacional de escala planetária. Como ignorar que três dúzias de bilionários tenham tanto dinheiro quanto quase metade da população mundial? Como tornar isso inteligível sem demonizar os empregadores de centenas de milhões de pessoas? Como convencê-las de que o mundo é livre para elas fazerem o que quiserem e serem as forças dominantes do amanhã? Como criar uma grande inserção, possibilitando a inclusão de milhões de pessoas que, em princípio, não estão equipadas para os chamados novos empregos – todos eles de forte apelo tecnológico?    

Ódios à parte, amigos, o mundo está mesmo preso numa armadilha para a qual só a melhor da política e das cabeças pensantes podem apresentar uma solução. Voilà.  

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Quarta, 11 Dezembro 2024

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