Produção de veículos despenca 99% em abril
Desde o início da série histórica da indústria automobilística, em 1957, não havia um mês com produção tão baixa como abril de 2020, de acordo com os números divulgados nesta sexta-feira (8) pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) em coletiva on-line acompanhada pelo Portal AMANHÃ. Com quase todas as fábricas paradas ao longo do mês, apenas 1.847 veículos foram produzidos, entre automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, um tombo de 99% sobre o mês anterior e de 99,4% sobre abril do ano passado. Além disso, foram produzidas 1.752 máquinas autopropulsadas, 59% a menos que em março. O setor de máquinas agrícolas é considerado essencial pelo governo federal mesmo em período de pandemia, pois ajuda a manter o nível da colheita do setor rural (veja a íntegra da Carta da Anfavea deste mês no final desta reportagem).
A queda abrupta da produção foi acompanhada de recuos igualmente dramáticos nas vendas ao mercado interno e nas exportações. Os licenciamentos de veículos, de 55,7 mil unidades, foram 76% menores que em abril de 2019, pior resultado em duas décadas. O segmento de caminhões recuou 53,5% no mesmo período, e o de máquinas caiu 23,9%. Os estoques na virada do mês estavam em 237 mil unidades entre fábricas e concessionárias, suficientes para quatro meses de vendas no ritmo lento atual, o que explica a dificuldade em retomar a produção em todas as fábricas.
Para Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, é preciso encontrar meios para que o Brasil não entre numa recessão tão grave que possa levar o país a um colapso. "Isso exige um engajamento coordenado de toda a sociedade e também do Estado brasileiro, com foco absoluto na saúde e na economia. Não é hora de ruídos políticos que só desviam as atenções do que realmente interessa à população brasileira no momento de uma crise sem precedentes", pediu na coletiva. O único indicador positivo é o nível de empregos diretos na indústria, que se mantem num patamar acima dos 125 mil na soma das 26 associadas da Anfavea.
Reajustes, mesmo com crise
A grave crise que afeta o setor está fazendo com que as montadoras tenham de reajustar os preços dos automóveis – tudo em razão do câmbio. "Esse custo adicional, em boa parte, é explicado pela crise adicional que estamos enfrentando, além da pandemia e da crise econômica. De dezembro para cá, o dólar ganhou R$ 2 adicionais e de nada adiantou o Banco Central queimar US$ 50 bilhões para conter a valorização da moeda norte-americana. Cada montadora está fazendo os cálculos para saber quanto fôlego terá e o setor será levado a aumentar seus preços de venda, pois cada dia em uma crise. Enquanto a turma de Brasília não se tocar que temos uma crise, o câmbio seguirá tendo essa volatilidade", cobrou Moraes.
Segundo ele, o setor ainda está debatendo com o governo federal garantias. No entanto, a associação desenhou um plano que não envolve financiamento público. "É um esquema que utiliza a garantia dada pelo governo ao sistema bancário somada aos ativos das montadoras, pois não estamos pedindo subsidio algum de taxas. Ou seja, o BNDES daria garantia ao sistema que daria crédito para as montadoras. Porém, ainda não tem solução vinda do governo", contou Moraes.
Respondendo uma pergunta de AMANHÃ, o presidente da Anfavea revelou que o brasileiro continua procurando a venda on-line. Para atender a demanda, as concessionárias já estão vendendo pacote completo com financiamento e seguro, por exemplo. Na opinião de Moraes, o brasileiro não abrirá mão de buscar automóveis com alta tecnologia, conforto e design atraente. "Quando possível, o brasileiro voltará a comprar carros assim, ainda que, tendo em vista o cenário atual, procure carros mais econômicos, mais em conta para o bolso nesse momento", admite Moraes. Ele acredita que uma das mudanças sociais trazidas pelo coronavírus será a busca pelo carro próprio. "O automóvel é visto como uma proteção contra a Covid. As pessoas terão muito receio em utilizar transporte público, pois há essa mudança em curso na sociedade, mas ainda não concluímos como será o perfil desse novo consumidor", revelou.
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