Inovação para além do discurso
Inovação. Palavra que entrou no vocabulário de organizações dos mais variados segmentos. Sua importância já é clara para a maioria dos tomadores de decisão. Inovar é um verbo conjugado à exaustão em entrevistas, palestras e discursos. Virou lugar-comum. No entanto, mais do que a base de um discurso que hoje é bem assimilado, a inovação precisa ser um caminho de crescimento e transformação para as organizações. Quando um termo ganha contornos de mainstream, em muitos casos, perde seu significado prático e vira apenas retórica. Inovação sem ação torna-se palavra solta, perdendo seu sentido.
O tempo da inovação não é, via de regra, o tempo do cotidiano das organizações. Alguns desenvolvimentos levam anos, não raro décadas, para se transformar em produtos que sejam rentáveis e viabilizem novas soluções para as pessoas. Um processo longo, mas que, mesmo assim, não pode deixar de lado o objetivo de dar resultados práticos — e, no caso das empresas, rentáveis. A inovação que se busca não é abstrata nem discursiva: é aquela que muda o mundo e gera dividendos à sociedade, inclusive financeiros.
Empresas inovadoras constroem processos bem definidos em que os aportes para a busca de novas soluções vêm de múltiplas fontes. A relação direta com clientes e fornecedores é uma porta de entrada importante. Existem, ainda, aquelas inovações que o mercado não sabe que precisa. Essas vêm do olhar atento de profissionais altamente capacitados, da visita a feiras e eventos especializados, além de um trabalho constante de escuta do público interno. Um tipo de radar que se transforma em ideias que irão passar por um fluxo de filtros que avaliam a viabilidade da iniciativa. E há, ainda, aquela inovação que rompe os padrões de determinada organização e se constituem na forma de novos negócios.
Algumas ações são fundamentais para que o investimento em Pesquisa & Desenvolvimento seja realmente um caminho transformador para as empresas. Para que isso ocorra, é preciso criar uma cultura inovadora, disseminada internamente. P&D não pode ser um setor isolado dentro de uma organização, assim como a inovação não pode ser a prática de alguns poucos escolhidos. Como inserimos a inovação em setores como controladoria ou no jurídico, por exemplo? Esse ponto é importante porque o verbo inovar precisa ser conjugado em todas as áreas.
Podemos inovar criando novos produtos e serviços, mas também podemos ser inovadores pensando como melhorar o nosso próprio ambiente de trabalho, as rotinas cotidianas. Uma das características das soluções que fogem do senso comum é a capacidade de resolver problemas, não importando se são desafios de maior ou menor escala. Essa sinergia na busca de alternativas estabelece um local no qual boas ideias podem se consolidar em sugestões. E, se de fato forem viáveis, passarem ao estágio de projetos para produtos ou serviços.
Outro pressuposto da inovação resolutiva é seu caráter compartilhado. No mundo atual, dificilmente as grandes descobertas se viabilizam a partir do trabalho solitário de um gênio. No caso das indústrias, e de fornecedoras de componentes para diferentes setores, desenvolver soluções para as dores dos nossos clientes mostrou-se um caminho colaborativo para a criação de novos produtos, ou o aperfeiçoamento daqueles que já oferecemos ao mercado. Ouvir é parte imprescindível do processo para que o conhecimento que temos se materialize.
Por fim, porém essencial, a inovação demanda investimentos. O estabelecimento de uma cultura de inovação em ambiente aberto e colaborativo só se transformará em resultado se encontrar uma infraestrutura adequada e, principalmente, pessoas com a capacidade de desenvolver ideias até que se transformem em realidade. Não há inovação sem pessoas. São elas que mudam o mundo, atendem aos anseios buscados pelas organizações e — fundamentalmente — fazem os discursos bonitos serem mobilizadores de ações.
*CEO do Grupo FCC
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