Como a Gerdau molda a inovação

Durante a primeira edição do Gerdau Innovation Day, empresa detalhou suas estratégias de inovação e discutiu desafios do setor ao lado de parceiros e líderes do ecossistema
Transformação cultural, inovação aberta e conexões estratégicas foram temas do painel com Elder Rapachi (Gerdau), Daniel Randon (Randoncorp) e mediação de Carolina Cavalheiro (Instituto Caldeira)

Na véspera da abertura do South Summit Brazil 2025, a Gerdau promoveu um encontro que expôs em detalhes as engrenagens por trás de sua estratégia de inovação. Realizada no Instituto Caldeira, em Porto Alegre, a primeira edição do Gerdau Innovation Day reuniu representantes da própria companhia, de startups, hubs de inovação, outras grandes empresas e do poder público para debater modelos de crescimento, cultura empreendedora e colaboração entre diferentes atores do ecossistema. A escolha do local, por si só, já foi carregada de simbolismo: o Caldeira foi um dos pontos mais afetados pelas enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul no ano passado. Mesmo assim, foi justamente nesse espaço — que hoje abriga mais de 130 empresas e já acelerou mais de 300 startups — que a Gerdau decidiu abrir a semana do South Summit. Como se antecipasse as discussões que ocorreriam ali, a escolha revela que inovação, resiliência e reconstrução se complementam. Confira, a seguir, os destaques do evento.

Alianças para enfrentar desafios
O primeiro painel do evento abordou a importância da articulação entre grandes empresas, hubs e startups para promover soluções inovadoras e acelerar transformações. A conversa foi mediada por André Gerdau, vice-presidente do conselho de administração da companhia, e contou com a participação de Pedro Valério, diretor executivo do Instituto Caldeira, e Sergio Finger, CEO da Trashin, startup que atua na cadeia de gestão de resíduos com foco em economia circular. Pedro lembrou que o Caldeira nasceu em 2020 como um projeto coletivo de grandes empresas do estado e cresceu rapidamente, mesmo enfrentando dois grandes eventos extremos. "Hoje, somos talvez o primeiro hub de inovação do mundo que nasceu numa pandemia e sobreviveu a uma enchente", disse. A instituição, que ocupa atualmente dois prédios no Quarto Distrito de Porto Alegre, projeta expansão de 33 mil metros quadrados destinados à nova economia. 

Sergio, por sua vez, compartilhou os bastidores da criação da Trashin e como a conexão com o Caldeira e com a Gerdau foi essencial para profissionalizar e escalar o negócio. "Nosso desafio era trazer rastreabilidade e dados para um setor ainda muito analógico. Com apoio do ecossistema, conseguimos acelerar isso e hoje atuamos em todo o Brasil", contou. Segundo ele, o apoio de grandes empresas tem sido decisivo para abrir portas e criar um ambiente propício para inovação de impacto. Já André Gerdau destacou que o papel da empresa é justamente ajudar a traduzir linguagens. "A startup fala um idioma, a grande empresa outro, o investidor um terceiro. Precisamos de pontes. E o que importa, no fim, é gerar negócio. Inovação só se sustenta quando vira resultado", afirmou.

Da ideia à escala
O segundo painel reuniu Elder Rapachi, diretor executivo da Gerdau Next, e Daniel Randon, presidente da Randoncorp, com mediação de Carolina Cavalheiro, do Instituto Caldeira. A conversa girou em torno dos caminhos para transformar ideias em negócios de fato — e da importância da governança, da cultura e da definição clara de prioridades nesse processo. Elder destacou que a criação da Gerdau Next, em 2020, foi um movimento necessário diante da transformação cultural que a companhia já vinha vivendo desde 2013. "Tínhamos clareza de que precisávamos criar uma estrutura específica para desenvolver novos negócios e lidar com inovação aberta. A Gerdau Next nasce com esse foco, e hoje atua com investimentos, parcerias e criação de novas empresas a partir de teses estratégicas", explicou. Segundo ele, o grupo mantém cinco teses prioritárias: construção civil, mobilidade, sustentabilidade, digitalização e energia. A partir delas, avalia startups e projetos em que vale a pena investir, sempre com o cuidado de manter um portfólio alinhado à cultura da Gerdau e à sua capacidade de execução. "A arte de dizer não é parte do processo. A gente aprende a não se desviar daquilo que faz sentido pra nós", disse Elder.

Daniel Randon compartilhou um caso emblemático: a criação de uma joint venture com a Gerdau para locação de veículos da chamada "linha amarela" — escavadeiras, tratores e outros equipamentos pesados. O negócio surgiu de uma conversa informal em um programa de aceleração, ganhou tração com alinhamento cultural e foi selado em um churrasco entre os sócios. "Foi um sonho antigo que se tornou possível porque as duas empresas tinham uma visão parecida de futuro, propósito e ESG. A confiança foi o principal ativo." Além dos investimentos, as empresas têm apostado em programas de formação e aceleração de startups.  

Grandes palcos, grandes marcas
Ao longo do dia, dois painéis distintos abordaram os bastidores de eventos com alcance global e exigência operacional de alto nível: o Rock in Rio e a Fórmula 1 — ambos apoiados pela Gerdau. Luis Justo, CEO da Rock World, compartilhou os aprendizados do festival em um painel exclusivo. Já Francisco Matos, diretor executivo da Fórmula 1, participou de uma conversa ao lado de Pedro Torres, diretor global de comunicação, marca e relações institucionais da Gerdau. Justo explicou como o Rock in Rio criou, ao longo dos anos, uma metodologia de gestão da experiência do público que parte de escutas constantes e ativações práticas. "A gente tem uma equipe com bloquinhos no bolso, registrando sugestões e reconhecendo quem ajuda a construir a experiência coletiva. É uma forma de nos mantermos conectados com o que acontece no chão do evento", contou. A Gerdau, além de patrocinadora, é responsável por parte da estrutura da Cidade do Rock — incluindo palcos e instalações construídas com aço reciclado e reciclável. A parceria com o festival foi firmada em 2022, com foco na sustentabilidade e na aproximação com novos públicos. "É uma vitrine importante para a marca, mas também um ambiente de aprendizado sobre operação em larga escala e conexão emocional com o consumidor", resumiu Torres.

Já Francisco Matos destacou que, na Fórmula 1, a Gerdau passou a ter papel ativo na infraestrutura da etapa brasileira do campeonato, especialmente em locais de alta visibilidade. "Neste ano, vamos revitalizar áreas nobres do autódromo, como a torre da bandeirada e os semáforos de largada e chegada, todos com aço Gerdau. É um produto brasileiro, de altíssimo padrão, ganhando visibilidade global", explicou. Ele lembrou que, por se tratar de um evento com padrões internacionais rígidos, inovar na Fórmula 1 exige tanto capacidade técnica quanto sensibilidade cultural. "Mesmo com todas as normas, o Brasil consegue imprimir um jeito próprio, uma leveza que o público e os próprios pilotos valorizam. E a Gerdau tem se integrado muito bem a isso", refletiu Matos. A partir desta semana e ao longo dos próximos dois meses, os passageiros que passarem pelo saguão de embarque e desembarque do aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, terão a oportunidade de admirar de perto uma réplica em tamanho real de um carro de Fórmula 1, construída com 1,4 tonelada de sucata metálica, seguindo as medidas oficiais da competição.

Moldando o futuro
O encerramento do Gerdau Innovation Day teve como foco as transformações tecnológicas em curso e como as empresas podem se preparar para um futuro em que as mudanças são cada vez mais rápidas e, muitas vezes, assimétricas. O painel final reuniu Gustavo França, diretor global de tecnologia da informação e digital da Gerdau, e Mônica Magalhães, especialista em inovação disruptiva e fundadora da agência Disrupta. Mônica iniciou sua fala com uma provocação: "O futuro chega, mas o progresso nem sempre vem junto. Precisamos aprender a distinguir mudança de melhoria real." Segundo ela, o avanço tecnológico não pode ser analisado apenas em termos de eficiência, mas também de impacto social e cultural. Um dos principais desafios, afirmou, está na falta de planejamento estratégico de longo prazo — algo que ainda é escasso tanto no setor público quanto privado.

Ela também chamou atenção para a ausência de fluência digital em muitas lideranças e para a necessidade de atualizar não só as tecnologias, mas as mentalidades que moldam seu uso. "Se a inteligência artificial está nos ajudando a fazer mais em menos tempo, a pergunta é: o que estamos fazendo com esse tempo extra? Estamos expandindo a capacidade humana ou apenas cobrando mais?", questionou. Já França compartilhou como a Gerdau tem buscado incorporar essas reflexões na prática. Segundo ele, a companhia vem investindo em automação industrial, inteligência artificial e sistemas digitais de apoio à decisão, mas com atenção à cultura organizacional. "Tecnologia sem contexto vira ferramenta vazia. Nosso papel é garantir que as pessoas saibam para quê ela serve e como usá-la de forma responsável", afirmou. O painel também abordou as barreiras enfrentadas por projetos inovadores, como a ausência de recursos, a falta de visão de futuro e a desconexão entre o mundo técnico e o mundo da gestão. "Não se trata de romantizar a inovação, mas de reconhecer que ela exige preparo, formação e abertura para o desconhecido", contextualizou Mônica.

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Segunda, 14 Abril 2025

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