Era uma vez a Swissair

Cheguei na manhã desta quarta-feira (20) ao aeroporto de Guarulhos pelas asas da Swiss. Bom voo? É claro que sim. Na verdade, digamos que eles se distinguem entre os muitos que chegam ao destino e aqueles bem poucos que, infelizmente, não chegam. Qua...
Era uma vez a Swissair

Cheguei na manhã desta quarta-feira (20) ao aeroporto de Guarulhos pelas asas da Swiss. Bom voo? É claro que sim. Na verdade, digamos que eles se distinguem entre os muitos que chegam ao destino e aqueles bem poucos que, infelizmente, não chegam. Quando o nosso está enquadrado no primeiro time, pode-se dizer que tudo correu bem. É claro que alguns voos podem ser excepcionais ou terríveis. No primeiro caso, devido a uma boa companhia a bordo, dessas que nos fazem ignorar a passagem do tempo. No segundo, quando turbulências violentas nos alertam quanto à fragilidade da vida e toda sorte de pensamento ruim nos acossa naqueles minutos que parecem intermináveis. Quase sempre, porém, os voos são simplesmente medianos.

Mas não era disso que queria falar embora uma coisa leve à outra. Senão, vejamos. Até cerca de 20 anos atrás, um dos maiores orgulhos da pequenina Suíça era a Swissair, uma das bandeiras mais prestigiosas da aviação mundial. Bem antes da noção de "hubs" aéreos ter criado grandes aeroportos nos desertos do Oriente Médio, Zurique e Genebra despachavam voos diários para 117 destinos, localizados em nada menos do que 70 países, e o padrão de excelência da empresa era, como é de regra no país, radical. Ou seja, a manutenção era tida como das melhores do setor e do serviço de bordo nem se fala. A ambição da malha aérea ia a ponto tal que lembro de ter ido à Suíça para pegar boas conexões para a África meridional. Mas um dia...

Pois bem, no dia 2 de setembro de 1998, um avião da Swissair com 229 passageiros a bordo explodiu ao largo da Nova Escócia, Canadá. Ele cumpria uma das mais prestigiosas rotas da empresa, que era Nova York-Genebra, um emblema da ligação entre a ONU e a Liga das Nações. Depois do triste evento, uma gestão calamitosa resolveu impulsionar o crescimento pela via duvidosa das aquisições de empresas com problemas, ao invés de fazê-lo organicamente. Para ele, o toque mágico da nave-mãe transformaria pó em ouro. Foi o contrário. Ao adquirir a Sabena, da Bélgica, eis que os funcionários desta desencadearam uma greve já no dia seguinte. Entre muitos erros e poucos acertos, a empresa queimou US$ 17 bilhões de dólares...para nada. 

Até que em outubro de 2001 os aviões da empresa ou bem estavam arrestados em solo ou só podiam decolar contra pagamento em espécie de combustível, já que o crédito do colosso de outrora estava cortado. Quarenta mil passageiros ficaram à espera de uma solução no mundo todo, sem conseguir endosso para suas passagens. Um ano mais tarde, a companhia fechava as portas em definitivo. Eis um preço caro, caríssimo, por um modelo de gestão que nada tinha a ver com os passos sólidos e morigerados do crescimento do país. Veio então à luz a Swiss, uma empresa sem dúvida simpática, mas inexpressiva diante da anterior. Logo foi comprada pela Lufthansa e lá ficou um gostinho de saudade do que parecia feito para durar. 

Ignorar o DNA pode ser fatal à perenidade de empresas, países e pessoas.

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Domingo, 15 Dezembro 2024

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