Inadimplência atinge maior taxa anual desde 2016

Volume de famílias com contas atrasadas mantém tendência de alta
As proporções de endividados no cartão de crédito e no cheque especial aumentaram em um ano, embora sejam as modalidades com as maiores taxas de juros

A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), apurada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), apontou queda de 0,1 ponto percentual na proporção de endividados em outubro, após três altas consecutivas. No total, 79,2% das famílias pesquisadas relataram ter dívidas a vencer. Em um ano, no entanto, a proporção de endividados avançou 4,6 pontos percentuais, a menor taxa anual desde julho de 2021. Na inadimplência, a proporção de famílias brasileiras com contas atrasadas cresceu de 30% para 30,3%, quarta alta mensal seguida. Em um ano, o avanço de 4,6 pontos percentuais no indicador foi o maior desde março de 2016.

O endividamento está menor tanto entre as famílias de rendas média e baixa (até 10 salários mínimos) quanto para aquelas na faixa de maiores rendimentos (acima de 10 salários mínimos). A redução, na passagem mensal, foi mais expressiva entre os consumidores de renda elevada. Porém, em um ano, a proporção de endividados cresceu mais. "A geração progressiva de vagas no mercado de trabalho, a queda da inflação nos últimos meses, além das políticas de transferência de renda mais robustas têm aumentado a renda disponível, o que explica a desaceleração da proporção total de endividados", indica o presidente da CNC, José Roberto Tadros, em nota.

Juros altos dificultam pagamentos em dia
Mesmo com a retomada progressiva do fôlego na economia, os orçamentos domésticos seguem apertados, principalmente entre as famílias de menor renda. "O nível de endividamento alto e os juros elevados pioram as despesas financeiras associadas às dívidas em andamento, ficando mais difícil quitar todos os compromissos financeiros dentro do mês", pontua Tadros. Segundo ele, esse conjunto de variáveis resultou na quarta alta do volume de consumidores com dívidas atrasadas.

Os dados do Banco Central (Bacen) revelaram que os juros anuais em todas as linhas de crédito às pessoas físicas atingiram 53,7% em média, em setembro, crescimento de 12,5 pontos percentuais. Mas, segundo a economista da CNC responsável pela Peic, Izis Ferreira, a boa notícia é que a proporção de famílias com dívidas atrasadas por mais de 90 dias vem se reduzindo desde abril. Em outubro, esse indicador alcançou 41,9% dos inadimplentes, a menor proporção desde dezembro de 2021. "Os consumidores têm buscado renegociar as dívidas sem pagamento há mais tempo", avalia Izis Ferreira. A porcentagem de famílias que afirmaram não ter condições de pagar as contas caiu 1 ponto percetual de setembro para outubro, representando 10,6% do total de famílias.

Sul e Sudeste são os mais endividados
Embora o endividamento tenha caído no Brasil, neste início do último trimestre, em 17 das 27 unidades federativas, a proporção de endividados cresceu entre setembro e outubro. Dos cinco estados com os maiores volumes de consumidores endividados, dois estão na região Sul. No Paraná, 95,8% das famílias estão endividadas, enquanto, no Rio Grande do Sul, esse percentual chega a 91,9%. Os três estados seguintes no ranking são do Sudeste: Rio de Janeiro, onde 89,7% possuem dívidas, Espírito Santo, com 88,5%, e Minas Gerais, que atingiu o índice de 87,2%.

Dívidas no cartão de crédito e no cheque especial preponderam
As proporções de endividados no cartão de crédito e no cheque especial aumentaram em um ano, embora sejam as modalidades com as maiores taxas de juros. "Caracterizados pela facilidade no acesso e alta relação com as necessidades de consumo de curto prazo, os dois tipos de dívida foram os mais buscados pelos consumidores que tiveram o poder de compra afetado pela alta da inflação no período", explica a economista Izis Ferreira.

Já o crédito consignado, um dos tipos de crédito com juros mais baixos (cerca de 25% ao ano, segundo dados do Banco Central), perdeu espaço no endividamento dos brasileiros: 5% do total de consumidores endividados tem dívidas consignadas atualmente, ante 7% em outubro de 2021. Apesar disso, Izis analisa que essa proporção deve crescer em razão da contratação desse tipo de crédito pelos beneficiários do Auxílio Brasil. Entre setembro e outubro, a Peic mostrou que o endividamento no consignado teve a primeira alta em cinco meses, com avanço de 0,1 ponto percentual. "Vale notar ainda que, nos dias 10 e 11 de outubro, o Google Trends apontou recordes nos índices de busca pelo termo 'consignado Auxílio Brasil', justamente quando a Caixa Econômica Federal anunciou a oferta dessa linha de crédito específica para beneficiários desse programa de transferência de renda."

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Terça, 07 Mai 2024

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