Copom decide manter os juros básicos em 2% ao ano

Banco Central interrompe ciclo de corte da Selic
Colegiado não pretende reduzir o grau de estímulo monetário, a menos que as expectativas de inflação estejam suficientemente próximas da meta

O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC) decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic em 2% ao ano. O mercado já aguardava pela manutenção dos juros básicos. O ciclo de cortes encerrado nesta quarta-feira (16) teve nove quedas seguidas, com início em julho do ano passado, quando a Selic estava em 6,5% ao ano. O Copom volta a se reunir nos dias 27 e 28 de outubro.

O colegiado entendeu que essa decisão reflete seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante, que inclui o ano-calendário de 2021 e, em grau menor, o de 2022. No documento apresentado após o término da reunião (veja a íntegra ao final desta reportagem), o BC afirma que o espaço remanescente para utilização da política monetária, se houver, deve ser pequeno.

Ainda de acordo com a nota, o BC não pretende reduzir o grau de estímulo monetário, a menos que as expectativas de inflação, assim como as projeções de inflação de seu cenário básico, estejam suficientemente próximas da meta de inflação para o horizonte relevante de política monetária, que atualmente inclui o ano-calendário de 2021 e, em grau menor, o de 2022. "Essa intenção é condicional à manutenção do atual regime fiscal e à ancoragem das expectativas de inflação de longo prazo", revela a ata da reunião. O Comitê avaliou que a inflação deve se elevar no curto prazo. Na visão do BC, contribuem para esse movimento a alta temporária nos preços dos alimentos e a normalização parcial do valor de alguns serviços em um contexto de recuperação dos índices de mobilidade e do nível de atividade.

O grupo também analisou o panorama da economia mundial e local. "No cenário externo, a retomada da atividade nas principais economias, ainda que desigual entre setores, em conjunção com a moderação na volatilidade dos ativos financeiros, tem resultado em um ambiente relativamente mais favorável para economias emergentes. Contudo, há bastante incerteza sobre a evolução desse cenário, frente a uma possível redução dos estímulos governamentais e à própria evolução da pandemia da Covid-19", ressaltam os membros do Copom. "Em relação à atividade econômica brasileira, indicadores recentes sugerem uma recuperação parcial, similar à que ocorre em outras economias.Os setores mais diretamente afetados pelo distanciamento social permanecem deprimidos, apesar da recomposição da renda gerada pelos programas de governo. Prospectivamente, a incerteza sobre o ritmo de crescimento da economia permanece acima da usual, sobretudo para o período a partir do final deste ano, concomitantemente ao esperado arrefecimento dos efeitos dos auxílios emergenciais", evidenciam.

A Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), única entidade industrial do Sul a se manifestar até o fechamento desta edição, considera que a manutenção da Selic se explica pelo fato de o Comitê julgar que, em caso de nova redução, os riscos em torno da inflação seriam atenuados. Por isso, a precaução deve ser mantida nessa e nas próximas reuniões. "Mesmo com os bons sinais de retomada das atividades, ainda não sabemos se a velocidade da recuperação será suficiente para nos levar ao nível pré-pandemia. Além disso, os riscos fiscais limitam muito os instrumentos para estimular a economia. A sequência de cortes nos juros foi importante para auxiliar na recuperação, mas é preciso ter cautela, tanto porque existem pressões opostas sobre a inflação, mas também porque somente juros baixos não garantem a total recuperação da economia", nota Gilberto Petry, presidente da entidade. Ele ressalta a necessidade de maior comprometimento com as reformas para que o país possa voltar a crescer de maneira sustentada.

Segundo Petry, as políticas de crédito e de transferência de renda adotadas pelo governo durante a pandemia podem manter a demanda em um nível acima do esperado no momento, gerando uma pressão de alta inflacionária. Ao mesmo tempo, a piora na ociosidade da economia devido à crise pode segurar o nível de preços em um patamar baixo demais, o que também é um risco e justifica essa cautela adicional do Copom.

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Quinta, 21 Novembro 2024

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