Coelhinho previdente
A Páscoa comemorada no último domingo (31) encheu os supermercados de ovos de chocolate desde o pós-Carnaval, em fevereiro. Entre eles, várias novidades, como os ovos de pudim e de figo com espumante. Viva a criatividade da indústria, certo? Sim, mas sobretudo sua capacidade de planejamento, fundamental para o sucesso comercial na data. Os motivos para isso são relativamente simples. Sabe-se exatamente quando a Páscoa será comemorada, seu carro-chefe é o mesmo há décadas e o volume de vendas, estimável com alguma antecedência, a partir do desempenho comercial do ano anterior e das projeções de crescimento econômico. Ou seja, um cenário relativamente claro e estável, e no qual as informações são confiáveis, justamente aquilo de que o planejamento mais precisa para provar sua utilidade.
Na indústria do chocolate, a programação para a data começa no dia seguinte ao fim da Páscoa corrente, quando se faz um balanço dos resultados. Como os produtos são principalmente destinados às crianças, uma passada de olhos nas preferências atuais dos pequenos e nos personagens mais populares na mídia oferece um bom início de caminho para projetar novos produtos, que serão desenvolvidos e testados entre abril e julho. A produção de ovos exige 50% mais tempo que a de chocolates comuns e, consequentemente, acréscimo de mão-de-obra. Por isso, a contratação de funcionários temporários acontece entre agosto e setembro, para que a fabricação inicie em outubro.
O ideal é começar a distribuição dos ovos em fevereiro, ainda durante o verão. Porém, esses chocolates exigem temperatura máxima de 25º, o que é raro nessa época. Assim, convém ficar de olho na previsão do tempo – é provável que o envio das mercadorias ao varejo tenha de ser adiado para quando a temperatura estiver mais amena. Quanto mais tardia a Páscoa, melhor: menos calor e mais poder de compra o consumidor terá para investir em um presente, já recuperado das despesas de início de ano (IPTU, IPVA e material escolar). Indústria e comércio sabem que a última semana concentra 75% das vendas. As "parreiras" nos supermercados são montadas antes para lembrar os clientes da aproximação da celebração e, quem sabe, influenciá-los a antecipar as compras, o que ajuda a programar o restante da distribuição.
Jim Collins já disse que "nas empresas que se dão melhor em meio ao caos, existe uma visão muito clara de que não dá para prever o que vem a seguir e não é possível fazer planos detalhados". Bem, não é o caso da indústria do chocolate. A Páscoa nada tem de caótica, e o Coelhinho é como o Papai Noel: sempre vem.
Comentários: