Não saio de casa sem ela
De Paris (França)
Carta ao médico da UTI do hospital de Paris*
"Caro doutor,
Eu sou Fernando. Estou em Paris há um quase mês, vivo em São Paulo, Brasil, e passei minha infância no Recife – uma bela cidade que o senhor deveria conhecer um dia. Desculpe chegar aqui para uma internação de urgência. Asseguro que fiz de tudo para evitar ser contaminado, mas afinal, cá estou. Eu sei que o senhor vai olhar minha ficha médica com pessimismo: 62 anos, sobrepeso, hipertensão moderada, asmático...Hum, certamente um prognóstico ruim. Vale mais a pena, segundo os protocolos, dar meu lugar nos respiradores mecânicos aos mais jovens, àqueles que podem ainda fazer muito pela humanidade. Pois bem, caro doutor, não faça isso, eu suplico. Me dê uma chance. Me coloque na ventilação mecânica e eu prometo que vou me recuperar. Eu ainda tenho muita coisa a fazer. Minha vida não pode terminar sem que eu tenha a alegria de abraçar minha mãe, de fazer uma viagem ao Japão com o amigo Abu, de terminar um livro novo que será o mais belo que já tenha escrito, de perdoar duas pessoas e talvez de me fazer perdoar por outras. Eu vou surpreendê-lo, esteja seguro. Dentro de mais dez dias eu vou sair da UTI e vou ser um cidadão mais completo. Só vou beber à metade de minha sede e comer à metade de minha fome. Vou levar uma vida modesta na montanha e vou mandar plantar árvores. O senhor não vai se arrepender. Obrigado e a gente se vê em dez dias.
Fernando"
*Lettre à M. le Docteur de l´hôpital
"Cher Docteur,
Je m´appelle Fernando. Je suis à Paris depuis bientôt un mois, je vis à São Paulo, Brésil, et j´ai passé mon enfance à Recife – une belle ville que vous devriez connaître un jour. Pardon d´arriver ici pour une internation d´urgence. Je vous assure que j´ai fait beaucoup d´attention pour éviter d´être contaminé mais en fin de compte, me voilà. Je sais que vous allez voir ma fiche médicale avec pessimisme: 62 ans, surpoids, hipertension moderée, asmatique...Hum, sûrement un prognostic mauvais. Il vaut mieux, selon les protocoles, donner ma place aux respirateurs mécaniques aux plus jeunes, à ceux qui peuvent encore faire beaucoup pour l´humanité. Eh bien cher docteur, ne faites pas ça, je vous en supplie. Donnez moi une chance. Mettez moi dans la ventilation mécanique et je vous promets que je vais me récuperer. J ´ai encore beaucoup de choses à faire. Ma vie ne peut pas encore finir sans que j´aie la joie d´embrasser ma maman, de faire un voyage au Japon avec Abu, de finir un nouveau livre qui sera le plus beau que j´aie déjà écrit, de pardonner deux personnes et peut-être même me faire pardonner par d´autres. Je vais vous surprendre, soyez-en certain. Dans une dizaine de jours, je sortirai des soins intensifs et je serai un citoyen plus complet. Je vais boire à moitié de ma soif et manger ma faim à moitié aussi. Je vais vivre une vie modeste dans la montagne et je ferai planter des arbres. Je vous assure que vous ne le regretterez pas de m´épargner. Merci et on se reverra dans dix jours."
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