Casual Friday
Nos tempos em que trabalhávamos de terno e gravata, isto é, até o começo deste milênio, eram raros os que apareciam nos ambientes mais formais em trajes esportivos. A impressão que dava era que a pessoa em questão estava fora de combate, e que tinha passado no trabalho apenas para fazer aos demais uma vista de cortesia. Se pensarmos em retrospectiva, até o diapasão da conversa naquele dia era outro. Perguntava-se sobre o mundo "lá fora" e desejava-se ao afortunado um pronto regresso à linha de frente. Pouco a pouco, as empresas instituíram uma sexta-feira mais informal. As razões eram fortes. Ora, muita gente saía do trabalho diretamente para a praia, para o sítio ou para o aeroporto. Nada mais descabido que levasse um terno dependurado num cabide dentro do carro, o que acontecia muito.
Nos anos 1950, contava meu pai, ele foi proibido de entrar num prédio na Rua Barão de Itapetininga, no Centro de São Paulo, porque não estava usando chapéu. Eis uma diferença fundamental para os dias de hoje onde não é raro vermos jovens de bermuda e tênis em escritórios estilosos, especialmente quando se trata de profissionais de áreas menos afeitas ao formalismo, como é o caso de videomakers e publicitários. De mais a mais, terno e gravata – já nem falo de colete – estão relegados ao universo evangélico. Os vencedores do mundo laico e privado apresentam-se em mangas de camisa e, quando muito, nas horas mais solenes, levam um blazer a tiracolo. Se a isso somarmos as barbas de uma semana, eis que nos aproximamos do padrão iraniano dos aiatolás, o que não deixa de ser irônico.
Desde que fui à Ásia pela primeira vez, sempre me chamou a atenção o fato de os japoneses serem muito elegantes e quase sempre vestirem ternos escuros, com raras concessões ao cinza durante o verão. A gravata sempre foi de lei, inclusive nos fins de semana. A China ainda experimenta transformações nesse terreno, mas em Hong Kong – assim como em Taiwan e Cingapura – os homens usam camisas brancas de mangas curtas, uma camiseta de algodão sobre a pele, e a gravata. Sempre que vou a estas cidades, faço questão de despertar cedo e de passear pelas praças próximas ao hotel. Nelas vemos multidões de executivos fazendo os movimentos suaves e coreográficos do tai-chi, antes de chegar ao escritório. Lá nesses rincões asiáticos, o "casual" já achou seu meio termo há muito tempo.
Seja como for, nesta sexta-feira saariana de São Paulo, todos estão a sonhar com um chuveiro frio, na falta de uma piscina.
Veja mais notícias sobre Comportamento.
Comentários: