Adorei, adorei, adorei...
1 – "Anora" é um filmaço. Cheio de sexo, néon, luz de cabaré e bebedeiras, capta de cheio o mundo das oligarquias russas que nasceram sob a sombra de Yeltsin e se consolidaram ao longo de duas décadas de rapinagem pedagiada, nos confina do Império.
2 – E onde isso acontece? Poderia ser em Berlim que seria convincente. Em Londres, também vingaria. Em Paris, talvez um pouco menos. Mas o melhor é que a história é nucleada no Brooklyn, em Coney Island, em Brighton Beach. É um cenário de ouro para a trama.
3 – Anora é uma prostituta num lupanar onde se rentabiliza cada minuto, sem espaço para o romantismo tropical. Um dia chega lá Ivan, um jovem russo que despeja dólares para se divertir, como se o Apocalipse se aproximasse. Tudo vale: cocaína, haxixe, roleta e birita.
4 – Ivan leva Anora para sessões privadas de sexo na mansão. Intenso e impulsivo, o ator Mark Eydelshteyn parece ter saído de Pushkin. Anora, na interpretação divertidíssima de Mikey Madison, nada fica a dever. A direção de Sean Baker é de tirar o fôlego.
5 – As transadinhas domésticas ganham qualidade, sem que ela esqueça de ligar o taxímetro. Uma ida a Las Vegas muda tudo. Por que não casar? Eles se casam. A mãe do russinho surta. E espezinha o tutor, um vigarista da Igreja Armênia, que falhou na missão de impor limites.
6 – Tudo passa então a girar em torno da anulação do casamento. Indo muito além de uma comédia romântica, o filme transborda de energia criativa e você não vai conseguir segurar o riso mesmo nos momentos dramáticos, tensos e quase truculentos.
7 – Vou parar. Se eu contar mais, você vai desistir de ir. Portanto fico por aqui. Não sei onde você vai vê-lo: na cama, no sofá, só ou acompanhado. Mas vá ver porque até o fim – o fim mesmo -- a história prega peças, surpreende e, tenham certeza, comove.
8 – Quem já viu, diga aqui o que achou. Tem horas que eu fico louco para conversar com alguém sobre as maravilhas da tela, as descobertas literárias, os despautérios do mundo – para rirmos e nos emocionarmos. "Anora" é um filme que pede isso.
9 – Mexa-se, programe-se e ouse.
Originalmente publicado pelo autor em seu perfil no Facebook no dia 5 de fevereiro, um mês antes da realização do Oscar 2025
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