A indústria dos vulneráveis
1 – Os algoritmos transformaram as pessoas adultas em bebês chorões. O que tem de gente correndo para a barra da saia da mãe não é brincadeira. Esses indivíduos teriam dificuldade de crescer no Nordeste dos anos 1960-70. Todo mundo quer ser amado, quer afagos, quer políticas que possam contemplar suas micro preferências, e abre o berreiro quando é contrariado. Parece ter sido criado por mães italianas – hiper protetoras e que os defendiam com um rolo de massa na mão contra quem falasse mal do seu bambino.
2 – Ora, ser odiado é toda uma ciência. A gente não pode desmontar a todo instante por conta de qualquer coisa. Mesmo que ela afronte nossos interesses mais imediatos, a floresta tem sempre de contar mais do que a árvore. Essa semana estive com um sujeito que não vai muito com minha cara. Tivemos uma reunião de trabalho simplesmente ótima, apesar disso. Em dado momento, ele disparou a metralhadora e me disse horrores sobre minha postura, minhas ideias e minha visão de mundo. Disse que eu era anacrônico e cristalizado.
3 – Eu posso não ter adorado na hora mesmo porque temia que o tom nos desviasse do objetivo da conversa. Mas quando vi que isso não aconteceu, suspirei aliviado. À noite, já em casa, recapitulei tudo aquilo que ele tinha dito. Havia diamantes no meio dos pedregulhos. De imediato, já fui fazendo bom uso daquilo. O que me interessa ficar cercado de pessoas que dizem amém aos meus caprichos? Tenho várias camadas de personalidade que possibilitam o rancor alheio. Como eu posso negar isso? Por que ir à delegacia prestar queixa?
4 – Apanhar e saber bater são faculdades vitais para que nos mantenhamos altivos. Convivi com estrangeiros que acham brasileiros superficiais e embusteiros. Não reclamei. Sou do Nordeste, uma zona que associavam a pobretões viciados em dinheiro público. Sem queixas. Sou de Pernambuco, um estado empavonado que nem sempre galvaniza simpatias, sequer no Nordeste. E daí? Sou de Garanhuns, terra de nascimento de Lula, o que me torna suspeito de predileções por ele. Pensem como quiserem. Pior: sou branco, gordo e heterossexual.
5 – Nunca, jamais, essas características isoladas ou em bloco me perturbaram. As políticas públicas não precisam me contemplar. O maior favor que o país me presta é dar um passaporte. Sou grato também pela língua bonita e, paradoxalmente, por ter nascido ungido de tudo o que está acima. Todo dia sou objeto da raiva e do ressentimento alheio. Não perco o prumo. Eu teria vergonha de levantar uma bandeira se ela fosse feita sob medida para mim. Precisamos ir do genérico para o específico, e não o contrário. É hora de largar a saia da mãe.
6 – Se eu quisesse um país cujas políticas públicas me contemplassem, eu deveria morar na Suíça, não no Brasil. Seria fortemente estranhável que o conjunto dos meus interesses fosse levado em conta por Brasília. A política precisa ser feita em prioridade para quem está passando por necessidades básicas, sem saneamento, à mercê dos mosquitos e das filas dos hospitais públicos. Os governos propriamente ditos podem me ignorar. No fundo, prestam até um favor. Portanto, se você pode mais, chore menos. Mire-se em Maradona.
7 – Por que Maradona foi o que foi? Porque levava trancos terríveis e nem se queixava do juiz. Ia lá e dava espetáculo. Agora pensem naqueles que levam um sopro e dão cinco voltas em torno do corpo, como se tivessem sofrido uma descarga elétrica. Quem vocês preferem? Francamente!
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