A arte do encontro
O economista inglês John Kay tem uma teoria interessante, a da "ação indireta". Segundo ele, certos objetivos são mais bem alcançados quando não perseguidos deliberadamente, e sim, por meio de outros, intermediários. Por exemplo: você quer que sua empresa dê lucro? Trate de satisfazer o cliente e os resultados virão. Quer ser reconhecido numa atividade? Faça-a por prazer, sem se preocupar com a fama, e os aplausos chegarão. É o que ele chama de obliquidade.
Pois parece que lógica semelhante está valendo para os relacionamentos. Segundo uma matéria publicada no El País, da Espanha, jovens estão abandonando os aplicativos de relacionamento e encontrando namorados e ficantes à moda antiga – isto é, por aí, quase ao acaso, quando menos esperam ou procuram. E no caso espanhol, o lugar preferido para deixar a sorte rolar é o... supermercado.
Por lá, espalhou-se o seguinte alerta: clientes com um abacaxi no carrinho de compras de uma loja do Mercadona, entre 19h e 20h, estão disponíveis para flertar. Para diminuir a chance de um falso positivo – pois desavisados já comprometidos ou singles sem interesse em um date podiam perfeitamente coincidir em horário e produto -, o ideal é se dirigir à seção de vinhos e aguardar que outro(a) solteiro(a) conhecedor(a) dos códigos da paquera desse um encontrãozinho com o seu carrinho para uma conversa casual começar.
Ainda na Europa, Paris tem sediado eventos do Food Runners Club e do Running Flan Club. Funciona assim: por meio de redes sociais, agenda-se dia, horário e trajeto para uma corrida em grupo. Detalhe: o local de chegada é sempre um restaurante, uma confeitaria, uma lanchonete ou um bar, pois a recompensa não são as calorias perdidas, e sim as que vão ser ganhas logo a seguir – a comida, em suma. Cada encontro elege uma iguaria como prêmio, e assim a galera sai em marcha feliz, pois sabe que haverá um pote de ouro no fim do arco-íris. Ou antes dele, pois casais já se formaram no meio desse pelotão.
Como grupos de corrida são universais, é evidente que a tendência já chegou ao Brasil, a ponto de eles serem apelidados de "novo Tinder". Dizem até que, a exemplo do abacaxi dos supermercados espanhóis, por aqui há também uma sinalização de solteirice e disponibilidade: as meias azuis.
Mas se alguém acha correr meio fora de moda, a escalada pode ser uma alternativa. O que faz sentido, pois se trata de uma atividade desempenhada calma e lentamente, com cuidado para evitar um passo em falso – o que já é um bom início para qualquer relacionamento. E academias de ginástica também oferecem sinais importantes a respeito de um potencial crush, pois permitem perceber como "a pessoa lida com esforço, frustração e com o próprio corpo, ou se é competitiva demais" .
Alternativas oblíquas não faltam, portanto. Tudo é questão de persistir na beleza da ação indireta. Afinal, como dizia outro britânico, George Harrisson, "é só dar um tempo que o amor vem pra cada um".
Feliz dia dos namorados.
Veja mais notícias sobre ComportamentoBrasil.
Comentários: