Sul é a região com maior projeção de aumento de cheias

Conclusão faz parte de um estudo coordenado pela ANA
Cheias extremas podem se tornar até cinco vezes mais frequentes no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul

A Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) lançou a publicação As Enchentes no Rio Grande do Sul – Lições, Desafios e Caminhos para um Futuro Resiliente. O levantamento foi produzido por membros do grupo técnico de assessoramento para estudos hidrológicos e de segurança de infraestruturas de reservação e de proteção das cheias no Estado do Rio Grande do Sul, coordenado pela ANA. O trabalho desenvolvido pela agência desde as enchentes de abril e maio de 2024 se concentra no entendimento do evento e na discussão de orientações que têm sido aplicadas na reconstrução, recuperação e realocação de infraestruturas danificadas, além de medidas para a proteção das pessoas que vivem nas áreas impactadas pelo desastre.

A publicação é um diagnóstico técnico-científico sobre as enchentes de 2024 no Rio Grande do Sul, destacando seus impactos socioeconômicos e ambientais no estado (confira a íntegra ao final desta reportagem). Além disso, o levantamento oferece subsídios para a reconstrução das áreas afetadas e apresenta estratégias que priorizem a resiliência hídrica e a prevenção de futuros desastres decorrentes de enchentes. O material contou com o trabalho conjunto de universidades, instituições de pesquisa, associações de classe e demais parceiros do GTA RS.

Analisando as enchentes históricas de 2024 no território gaúcho, o levantamento indica que esse foi o maior desastre natural da história do Rio Grande do Sul e um dos maiores do Brasil, com chuvas com duração, intensidade e abrangência territorial jamais observadas no Brasil. Com isso, a enchente fez o nível do lago Guaíba atingir o máximo histórico de 5,37 metros em Porto Alegre, superando em mais de 60 centímetros o recorde anterior registrado em 1941 (4,76 metros). Os impactos desse evento foram catastróficos e abrangentes, afetando cerca de 2,4 milhões de pessoas em 478 municípios, causando 183 mortes e prejuízos econômicos estimados na casa dos bilhões de reais.

De acordo com o estudo, os sistemas de proteção contra inundações em Porto Alegre e outras cidades gaúchas, projetados nas décadas de 1960 a 1980, falharam em vários pontos e por diversos motivos, como rupturas em comportas, refluxo em galerias, diques abaixo da cota de projeto e fragilização desse tipo de infraestrutura. A publicação estima que 35% a 40% da população atingida pelas enchentes na região metropolitana de Porto Alegre em 2024 estava em áreas protegidas por sistemas que falharam, ampliando o impacto do desastre por conta de uma falsa sensação de segurança nessas localidades.

Estudos internacionais levantados indicam que a mudança climática induzida pelo homem pode ter tornado as chuvas intensas de abril e maio de 2024 duas vezes mais prováveis, assim como pode ter aumentado a intensidade das precipitações em 6% a 9%, além do fenômeno El Niño ter contribuído para o grande volume de chuvas no Rio Grande do Sul no ano passado. Avaliações de impacto da mudança do clima indicam, ainda, que o Sul do Brasil é a região com maior projeção de aumento de cheias, com cenários os quais apontam que a magnitude das vazões máximas pode aumentar em cerca de 20% e que as cheias extremas podem se tornar até cinco vezes mais frequentes no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Nesse sentido, eventos antes considerados raros, como a cada 50 anos, poderão ocorrer com frequência muito maior, a cada 10 anos, por exemplo.

A partir dessas constatações, a publicação indica que o dimensionamento de obras de infraestrutura no país precisa ir além das séries históricas e deve incluir eventos climáticos extremos recentes nas análises estatísticas, assim como aumentar a magnitude das vazões e chuvas máximas em 15% a 20%. Isso porque as técnicas de análise tradicionais, que consideram que tendências passadas se repetirão, não são mais válidas diante do cenário de mudanças climáticas. Como lições aprendidas com as enchentes de 2024 no Rio Grande do Sul, o estudo aponta que a reconstrução do estado deve incorporar critérios hidrológicos mais críticos para adaptação à mudança climática e combinar medidas estruturais e não estruturais, como reassentamento, mapeamento de riscos, infraestrutura híbrida (cinza e verde) e incorporação dos impactos climáticos no planejamento.

O levantamento destaca, ainda, a importância de um monitoramento hidrometeorológico mais robusto e inteligente, ampliando sua cobertura e implementando redundância para que essa atividade seja realizada sem lacunas. A publicação indica também que o conhecimento científico e tecnológico, disponível nas universidades e centros de pesquisa locais, foi crucial para a previsão e alerta, e a implantação operacional tanto da previsão quanto do alerta de eventos climáticos extremos deve ser uma prioridade para o Rio Grande do Sul e para outras regiões sujeitas a eventos de mesma natureza.

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Sábado, 03 Mai 2025

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