O filho Embaixador

Soa estapafúrdia, senão acintosa, quando não totalmente desastrada, a intenção anunciada pelo Presidente da República de nomear Eduardo Bolsonaro como titular de nossa Embaixada em Washington (foto). Pelo que chegou até mim, e que não deve diferir na...
O filho Embaixador

Soa estapafúrdia, senão acintosa, quando não totalmente desastrada, a intenção anunciada pelo Presidente da República de nomear Eduardo Bolsonaro como titular de nossa Embaixada em Washington (foto). Pelo que chegou até mim, e que não deve diferir na essência do que circula hoje no Brasil, Jair Bolsonaro defende a candidatura do filho baseado no fato singelo de que este fala inglês e castelhano, tem bom conhecimento das pautas internacionais, ademais de desfrutar do que julga ser bom trânsito junto à família Trump.

Nitidamente empolgado com a perspectiva, o hoje Deputado já anunciou que é bom nome para "reatar a relação com os Estados Unidos" (sic) e "aumentar a credibilidade do Brasil no mundo." Ora, em primeiro lugar, a relação nunca esteve rompida. Em segundo, nossa credibilidade só pode resultar arranhada de tal conchavo por refletir padrões dignos dos nepotismos vigentes em países sinistros, sendo a Arábia Saudita um bom exemplo. De mais, seria risível acreditar que o Itamaraty não disponha de quadros mais aptos para a função. 

Nesse contexto, não bastasse o absurdo de o Deputado ter, confessadamente, um lado na política americana – no caso, o do republicano Donald Trump, o que atrairia, dado seu estilo rebarbativo, a animosidade dos democratas do Congresso, instância na qual tramitam nossos principais interesses –, é candente a imaturidade do postulante para ocupar o mais alto cargo de nossa diplomacia. Dia desses bravateava a necessidade de termos uma bomba atômica própria. Semanas antes, professara a interferência externa na Venezuela. Ora, ora...

Antes que meu protesto soe como uma implicância pessoal para com a família presidencial, vale dizer que não engrosso as fileiras de quem vê no exercício da diplomacia uma dimensão sacrossanta da política externa cujo desempenho caiba exclusivamente ao Ministério das Relações Exteriores (MRE). Tendo vivido de perto a rotina do Itamaraty na implementação do SIPRI, e tendo ombreado com miríade de diplomatas profissionais, sei que as qualificações objetivas de muitos estão léguas aquém do que imagina quem os vê de longe. Mas para tudo há limite. 

Pois daí a se improvisar um jovem parlamentar na posição, vai enorme distância. Por muito que uma assessoria qualificada e profissional viesse a conferir-lhe um papel figurativo, há de se ressaltar o desgaste que implicaria a aprovação de seu nome pelo Senado assim como as dificuldades de trânsito que logo teria em Washington. Apesar da candente deterioração do capital humano no MRE, contam-se às dezenas os diplomatas mais aptos e legitimados a ocupar a Embaixada do que o Deputado Bolsonaro e suas caraminholas. 

Para tanto, imagine-se o quão desabonadora não seria a proximidade dele com a chamada direita americana, na figura de Steve Bannon. E aqui já nem falo de Olavo de Carvalho, um preceptor inadequado a pairar sobre a cadeira que já foi de Oswaldo Aranha, Walther Moreira Salles e Rubens Barbosa. De minha parte, torço para que mais energias não sejam despendidas em pautas ocas e anódinas num momento em que o Brasil teria alguns pequenos feitos a celebrar. De novo, engrenaríamos uma espiral maníaca.  

Para muitos, especialmente para os que se apressam em aplaudir as iniciativas disruptivas do Presidente, caberia aqui abraçar o "deixa para lá, deixa ele agir como quiser, muito mal o rapaz não pode fazer." Ora, Eduardo Bolsonaro, o mesmo que sai de um estúdio de TV com revólver no coldre, está mais para ativista e militante do que para estadista. Logo é tudo de que não precisamos em Washington. Tal como fez quando alardeou as virtudes da bijuteria de nióbio em Osaka há alguns dias, Bolsonaro pai se revela simplório na compreensão da vida internacional. 

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Quinta, 12 Dezembro 2024

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