Copom decide manter taxa Selic em 15% ao ano
Com a inflação desacelerando, mas alguns preços, como o da energia, pressionados, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu nesta quarta-feira (4) manter a taxa Selic inalterada. A votação foi unânime. Os analistas de mercado já acreditavam na manutenção da taxa no maior nível em quase 20 anos. Atualmente em 15% ao ano, a Selic está no maior nível desde julho de 2006, quando estava em 15,25% ao ano. Desde setembro do ano passado, a taxa foi elevada sete vezes seguidas. O Comitê voltará a se reunir nos dias 9 e 10 de dezembro.
"O ambiente externo ainda se mantém incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, com reflexos nas condições financeiras globais. Tal cenário exige particular cautela por parte de países emergentes em ambiente marcado por tensão geopolítica. Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores segue apresentando, conforme esperado, trajetória de moderação no crescimento da atividade econômica, mas o mercado de trabalho ainda mostra dinamismo. Nas divulgações mais recentes, a inflação cheia e as medidas subjacentes apresentaram algum arrefecimento, mas mantiveram-se acima da meta para a inflação", resume o comunicado distribuído ao final do encontro.
"O Comitê segue acompanhando os anúncios referentes à imposição de tarifas comerciais pelos Estados Unidos ao Brasil, e como os desenvolvimentos da política fiscal doméstica impactam a política monetária e os ativos financeiros, reforçando a postura de cautela em cenário de maior incerteza. O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho", afirmam os membros do colegiado. E, novamente, o Copom voltou a afirmar que a política contracionista deverá se estender. "Para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado", sublinha o texto.
"O cenário atual, marcado por elevada incerteza, exige cautela na condução da política monetária. O Comitê avalia que a estratégia de manutenção do nível corrente da taxa de juros por período bastante prolongado é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta. O Comitê enfatiza que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado", reitera o comunicado.
Tom mais duro
O modo de comunicação apresentado pelo Copom surpreendeu Marcelo Bolzan, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital. "O tom do comunicado veio hawkish, ele veio mais duro, surpreendendo. Na verdade, ele seguiu a mesma linha do último comunicado, só que como nós tínhamos uma expectativa que ele já sinalizaria uma possível mudança de rota no futuro, ele não fez isso. Então, no meu entendimento, ele manteve o tom duro da ata quando todo mundo já estava imaginando uma sinalização um pouco mais tranquila", relatou ao Portal AMANHÃ.
O fato do Comitê ter afirmado que a inflação está arrefecendo é um sinal positivo, na visão de Bolzan. "O Copom reconhece que a inflação começa a cair, que ela está arrefecendo, mas ainda ela continua acima da meta. Foi um dos pequenos ajustes que foram feitos da última comunicação para essa. Para os próximos passos, ficou claro aqui certamente mais uma manutenção da taxa de juros em 15% ao ano na reunião de dezembro", antevê o especialista.
"Hoje, quarta-feira, o dia foi positivo. E ele foi bastante positivo porque o mercado já acreditava que o Comitê sinalizaria alguma possibilidade de corte de juros no futuro. Então, como não veio essa sinalização, a quinta-feira deve ser um dia de ressaca, uma pequena ressaca. O início do dia deve ser de juros futuros subindo. Então a Bolsa deve sofrer um pouquinho, deve ter uma realização e deve começar o dia mais negativo porque hoje o dia foi muito positivo e como não aconteceu o esperado, amanhã os mercados vão começar um pouco mais tensos", avalia Bolzan.
Meta contínua
Pelo novo sistema de meta contínua, em vigor desde janeiro deste ano, a meta de inflação que deve ser perseguida pelo BC, definida pelo Conselho Monetário Nacional, é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 1,5%, e o superior é 4,5%. Nesse modelo de aferição, a meta passa ser apurada mês a mês, considerando a inflação acumulada em 12 meses. Em novembro de 2025, a inflação desde dezembro de 2024 é comparada com a meta e o intervalo de tolerância. Em dezembro, o procedimento se repete, com apuração a partir de janeiro de 2025. Dessa forma, a verificação se desloca ao longo do tempo, não ficando mais restrita ao índice fechado de dezembro de cada ano. No último Relatório de Política Monetária, divulgado no fim de setembro pelo Banco Central, a autoridade monetária manteve a previsão de que o IPCA termine 2025 em 4,8%, mas a estimativa pode ser revista, dependendo do comportamento do dólar e da inflação. A próxima edição do documento, que substituiu o Relatório de Inflação, será divulgada no fim de dezembro.
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