Confidências de Dr. Pollock à Rainha da Inglaterra
Tenho grande prazer em escrever. Pensando bem, desde criança me exercito nessa seara, talvez como resultado natural de ter sido um leitor razoável. Se é ocioso a essa altura elencar o histórico recente das publicações para as quais colaboro, é importante salientar que o processo só se consolidou no começo do século. Sou, portanto, um escritor bissexto. Nesse contexto, foi muito importante contar com a palavra de estímulo de diversos editores que me ajudaram a refinar o estilo e, sobretudo, a não desistir. Assim sendo, Eugênio Esber, da revista AMANHÃ, desponta como um farol, até por ter sido o primeiro a me franquear um espaço regular na prestigiosa coluna da última página que, pouco a pouco, tratei de ocupar com liberdade criativa e busca de concisão. Outro destaque nessa modesta trajetória foi Ivanildo Sampaio, do Jornal do Commercio, que me permitiu interagir à base de crônicas com o público de meu Estado natal do qual eu andava muito distanciado, até mesmo em função de viver fora de Pernambuco. Embora incorrendo no risco de passar ao largo de outros nomes essenciais, não há como esquecer o de Marcos Graciani que, entre outras provocações, me estimulou a ativar o blog "Ao redor do mundo". Com paciência para com minha volúpia em escrever, ele vem acolhendo "posts" de temática a mais variada, o que refina minha percepção de como falar ao coração do leitor, se é que conseguirei um dia.
Chegada mais uma hora de reconhecer as felicidades do acaso – cuja existência tantos tentam negar –, foi alvissareiro que tenha aparecido no horizonte a revista Será?, já no alvorecer de 2015. Enviadas as primeiras contribuições para a então editora Teresa Sales, logo percebi que, vencidas as resistências, o núcleo da revista acenava à distância com alguma complacência para com que eu extrapolasse os limites do debate que centrava os demais articulistas e fizesse incursões pela seara ficcional, sem exceder os limites do conto curto. Ora, quem tem um histórico de sobrevivente sob mais de um aspecto, tem por cacoete laçar as oportunidades nem bem elas se anunciam, desde que estejam alinhadas com o oportunismo saudável e vocacional. Foi assim que montei o cavalo e consegui imprimir à vida o que é o mais difícil num ofício que se presta ao desempenho livre: a estruturação do tempo, tendo assumido perante mim mesmo o difícil compromisso de fazer nascer a cada quinzena uma história nova. Foi, portanto, me obrigando a essa prestação que mantive o ritmo, fator imprescindível nas maratonas. Nada disso teria sido possível sem a palavra de apoio de João Rego, companheiro inestimável na sensibilidade e, como ninguém, sabedor do quanto representa uma palavra de estímulo. Somemos a ele os amigos Clemente Rosas, Fernando da Mota Lima, Helga Hoffmann e Sérgio Buarque e eis como se operou o milagre de mais este livro.
Se 2016 foi o ano do lançamento de "Nos passos de Fiszel Czeresnia e outras estórias", pela editora Chiado, de Portugal, o primeiro semestre de 2017 já começa com a noite de autógrafos de "Confidências de Dr. Pollock à Rainha da Inglaterra" (foto), em 1 de junho, no auditório da Ferreira Costa-Tamarineira, no Recife. Na verdade, embora o lançamento oficial só vá acontecer no Café Literário da Chiado em Lisboa, e só em julho terá lugar nas demais capitais brasileiras, uma excepcionalidade contratual me permitiu fazê-lo em primeira mão na cidade do Recife, onde se passa a principal história do livro, das 17 que reúne. Lançado também pela Chiado, uma das mais ativas editoras em língua portuguesa da atualidade, e com cláusulas de tradução para mais 3 idiomas europeus, o lançamento se destaca pela versatilidade temática. Duas histórias são ambientadas na Ásia Central ("Armênia e Geórgia, ecos de uma expedição ao Cáucaso" e "A estranha viagem de Krikor Balabanian"). Além da crônica epistolar que dá título ao livro, transcorrida quando da visita da rainha da Inglaterra ao Brasil, em 1968, o Recife é palco de outras três ("Mitologia íntima da margem esquerda do Capibaribe"; "De volta à rua da Aurora" e "O dia em que a Terra saiu do eixo"). Já o Brasil contemporâneo, conhecido como o da operação Lava Jato, tem como destaques "Conexão londrina" e "Uma história de amor e saudades", esta última narrada pela voz de um cachorro.
Para complementar essa pequena apresentação, vasculho os palcos da Europa com "Simplesmente Fabíola", história em que duas mulheres vivem uma relação intensa na França, e "Alamanc de Catalunya" em que o protagonista se enreda num drama de vida ao cabo de uma infecção dentária numa madrugada de Barcelona. Em "A visita de Doroteia ao filho Nestor", temos a narrativa pungente da vida de um somítico patológico, um cenário que se confunde com "Sempre às Quintas-Feiras", onde uma confraria de suicidas discute em terapia de grupo como contornar a compulsão. Em Chicago, o professor Veramundo Rota sofre com uma crise demencial e o Japão é palco de uma linda história de amor que começou numa noite de bebedeira em São Paulo, em torno de "Miss Komatsu". Na primeira pessoa, relato histórias que se passaram em Portugal, em "Viagem sentimental" e "Histórias de certo novembro". Por fim, você me acompanhará estrada afora em "Cabeça na Lua Entre Bucareste e Sofia", pelas estradas da Romênia e Bulgária. A revisão minuciosa de Vânia Cavalcanti contribuirá para o que se aprecie a qualidade do todo. Por fim, a capa foi cedida pelo blog de Fenando Machado, por especial obséquio de Carlos Henrique Barbosa e flagra o momento seminal da história principal, ou seja, a Rainha da Inglaterra ao lado do então governador Nilo Coelho, na chegada ao Palácio do Campo das Princesas, sede do governo de Pernambuco.
A todos vocês, obrigado pelas centenas de comentários de estímulo que me mandam diariamente pelas redes sociais e por correio eletrônico. Começar uma carreira depois dos 50 anos não é missão fácil. Mas a excelente interação que propicia a palavra escrita operou mais esse pequeno milagre. Logo o livro estará distribuído em rede nacional. Por enquanto, temos encontrado marcado no Recife em 1 de junho na Ferreira Costa-Tamarineira. Vamos fazer um grande e bonito evento. Assim sendo, farei uma apresentação do livro a partir das 18 horas. O auditório fica no quarto andar e o estacionamento é gratuito, com admissão até as 20h30. Até quinta-feira.
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