BC desiste de colocar inflação no centro da meta em 2016
Na quarta-feira (21), o Comitê de Política Monetária (Copom) fez o esperado ao manter a Selic em 14,25%. Contudo, o que chamou a atenção foi uma alteração bastante importante no comunicado. “A manutenção (...) da taxa básica de juros, por período suficientemente prolongado, é necessária para a convergência da inflação para a meta”, relata a passagem antevendo uma perspectiva. No entanto, a autoridade monetária trocou o horizonte temporal “no final de 2016”, usado no último comunicado, por “no horizonte relevante da política monetária”.
Copom mantém juros básicos em 14,25% ao ano
"A mudança sugere que o Banco Central está deslocando de 2016 para 2017 o seu objetivo de trazer a inflação para o centro da meta, provavelmente em razão da magnitude surpreendente da desvalorização cambial recente e dentro de um contexto em que a inflação já vinha sendo fortemente pressionada pelo realinhamento de preços controlados", destaca a LCA Consultores em relatório. Dessa forma, reforça a consultoria, a expectativa é de que o Banco Central, ao menos por ora, não esteja inclinado a responder ao aumento dos riscos inflacionários – decorrente da desvalorização aguda do câmbio – com uma nova rodada de elevação da taxa básica de juros.
Por outro lado, ao ressaltar que “a política monetária se manterá vigilante para a consecução desse objetivo [de trazer a inflação para a meta no horizonte relevante]”, o Copom manteve suas portas abertas para, se julgar necessário, promover um aperto adicional das condições monetárias.
"Ao alterar o forward guidance e estender o horizonte para atingir a meta, o Copom implicitamente reconhece que a condução da inflação a partir do provável fechamento perto de dois dígitos no final de 2015 para a meta de 4,5% no final de 2016 provavelmente exigiria uma nova rodada de significativa subida das taxas – algo que a autoridade monetária não está interessada em validar”, afirma Alberto Ramos, economista do BTG Pactual.
Por isso, boa parte dos economistas avalia que a Selic deve ficar estável em 2016 – como é o caso da Nomura. A corretora destaca que a mensagem líquida do comunicado é que meta será atingida apenas em 2017 e o banco vai potencialmente responder com aumentos a uma deterioração da expectativa ou previsões de inflação de longo prazo. O risco, contudo, é desancorar a expectativa de inflação.
Já para o BTG Pactual, o cenário-base é de três quedas de 50 pontos-base na Selic até o fim do ano que vem, para 12,75%, algo que era visto pelo banco desde o último Relatório Trimestral de Inflação. “Porém, com o passar do tempo, o BC pode progressivamente concluir que sua previsão atual de trajetória de desinflação ainda era muito otimista e mesmo com o recente horizonte de convergência adotado, pode encontrar espaço menor para o alívio monetário que o contemplado em suas previsões condicionais de inflação", afirmam Eduardo Loyo e Claudio Ferraz, ambos economistas do BTG.
Credibilidade
Luiz Eduardo Portella, sócio-gestor da Modal Asset Management, recorda que os mercados já esperavam que o BC em algum momento ia desistir de 2016, mas o Copom surpreendeu no timing. “A mensagem dará margem para especulação de que o BC está preocupado com a dominância fiscal", destacou Portella em entrevista para a Bloomberg, embora ele não considere que já estejamos nessa situação.
Para Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos, o Banco Central quis estender o horizonte de convergência da inflação à meta, mas não quis dizer 2017 e nem mesmo qual prazo. "O comunicado é confuso e traz incerteza pois não determinou prazo de convergência", afirmou. Thais Zara, economista-chefe da Rosenberg, afirmou que a autoridade monetária se compromete em questão de credibilidade, uma vez que terá um problema mais grave para convencer a sociedade de que entregará a inflação na meta.
O cenário é reforçado pela política e também pelo lado fiscal, já que o governo não consegue entregar o ajuste prometido. Ainda para esta semana está previsto um anúncio do governo de que haverá rombo nas contas públicas este ano. O clima político de instabilidade continuará afetando expectativas. “O cenário ainda é preocupante, pois a inflação vem demonstrando resistência para queda”, destaca Pedro Raffy Vartanian, professor de macroeconomia da Universidade Presbiteriana Mackenzie. “O desequilíbrio das contas públicas e a demora em corrigir estimulam a depreciação do real em relação ao dólar, o que torna a redução da inflação um processo mais longo e mais custoso para a sociedade. Assim, é possível afirmar que a incerteza sobre a questão fiscal afeta a eficácia da política monetária e resulta em taxas de juros elevadas por um período cada vez mais longo”, projeta Vartanian.
*Com Bloomberg
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