Ata do Copom defende executar meta fiscal definida pelo governo
O Comitê de Política Monetária (Copom) afirmou que o aumento das incertezas sobre as contas públicas vem pressionando as taxas de juros futuras, usadas como base para empréstimos bancários. Essa avaliação vem diante das recentes discussões no governo sobre mudanças na meta fiscal de déficit zero em 2024. "O Comitê vinha avaliando que a incerteza fiscal se detinha sobre a execução das metas que haviam sido apresentadas, mas nota que, no período mais recente, cresceu a incerteza em torno da própria meta estabelecida para o resultado fiscal, o que levou a um aumento do prêmio de risco", afirma o Banco Central.
A análise desse cenário consta na ata da última reunião do colegiado, realizada na semana passada, quando a Selic foi reduzida para 12,25% ao ano. Esse foi o terceiro corte consecutivo de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros. Para o Comitê, um aumento de gastos pode pressionar a inflação. Portanto, o documento reiterou que as metas estabelecidas devem ser seguidas. "Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas", destaca o documento.
Além da questão sobre a disciplina fiscal, os membros do Comitê do Banco Central afirmaram que o "esmorecimento" (desânimo) no esforço de reformas estruturais pode elevar a taxa de juros neutra da economia brasileira. A taxa neutra é aquela que não reduz e nem aumenta a inflação. Segundo a ata, isso pode trazer impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade [ou seja, sobre o do PIB]. Em relação à economia brasileira, o Comitê afirmou que os indicadores recentes mostram um cenário de desaceleração do PIB, como o esperado, ao longo do segundo semestre. Para a inflação, de acordo com o BC, os preços aos consumidores também seguem uma trajetória de queda, diante da desaceleração tanto na inflação de serviços quanto nos núcleos de inflação. Porém, observou que as expectativas de inflação seguem desancoradas, ou seja acima da meta, e "são um fator de preocupação".
Para o economista-chefe da Nova Futura, Nicolas Borsoi, a queda da inflação no setor de serviços será crucial para o Banco Central seguir com o corte na Selic. "O Copom reconhece que o cenário de inflação segue benigno, mas que as fontes recentes da desinflação, bens industriais e alimentos, começam a se esgotar, sugerindo que cabe aos serviços a tarefa de desinflacionar a economia", avalia. Os membros do Copom argumentam que o cenário externo é incerto e desafiador. O Comitê dividiu essas preocupações em dois pontos. Um deles é o conflito no Oriente Médio que trouxe variações, até o momento, moderadas para a taxa de câmbio e o preço do petróleo. O outro é o aperto monetário global, pois os juros mais altos, principalmente nos Estados Unidos, podem trazer pressões sobre a moeda e impactar a inflação. Importante lembrar que com os juros norte-americanos mais altos, há um deslocamento de investimentos para os Estados Unidos, principalmente com saída de recursos de países emergentes. Com menos dólares na economia, o real se desvaloriza e o preço dos produtos em cotados em moeda americana sobem.
"A ata mostrou o debate em torno dos canais de transmissão da taxa de juros dos Estados Unidos para a economia brasileira e que a manutenção de juros altos por mais tempo cria um desafio grande para as economias emergentes, levando o comitê a afirmar que é apropriado adotar uma postura de maior cautela", afirma Borsoi. Apesar dos cenários preocupantes, o Copom voltou a dizer que todos os membros do Copom concordaram, de forma unânime, com a expectativa de cortes de 0,5 ponto percentual nas próximas reuniões.
Entretanto os membros do Comitê ressaltam que apesar do processo de desinflação, ainda há um longo caminho a percorrer para levar a inflação para a meta. "O que exige serenidade e moderação na condução da política monetária", conclui a ata. Para o economista-chefe da Nova Futura, o Comitê trouxe uma mensagem mais cautelosa diante do cenário externo e da falta de panorama para a desinflação a frente. "O ritmo de cortes de 0,5% deve seguir no curto prazo, mas que o tamanho dependerá da reancoragem das expectativas. Sigo com o cenário de Selic a 11,75% em 2023 e 10% em 2024", projeta Borsoi.
Com Redação da B3
Comentários: